O cachorro da minha infância
me ensinou muito mais do que eu poderia ensiná-lo.
Aprendi, com ele, que lealdade e amor não têm preço;
que é possível estar só no meio de um mundo de gente;
e que nunca se é só se há um amigo do lado...
Aprendi que não é loucura conversar sozinho,
pois haverá quem sempre entenda com um olhar
o sentimento de quem não consegue expressar
em palavras o que se carrega dentro do peito
como um segredo que se tem medo de compartilhar...
Aprendi que não é preciso morar junto
para ter a sensação que o outro faz parte da sua vida;
que conviver é a arte do respeito à diferença
e que a alegria do reencontro é a retomada
de uma estrada que nunca foi interrompida...
Aprendi que uma boa caminhada ajuda
a colocar muitas idéias no seu devido lugar...
que hora de carinho é hora somente de carinho,
sem me preocupar com quem está em volta...
e hora de brigar é hora de rosnar e colocar os dentes para fora...
Aprendi que companheirismo significou muito mais
do que comer o mesmo pão junto...
Foi brincar de dois amigos contra o mundo,
dois heróis contra o universo,
dois corações irmanados sem filtros da razão.
Tudo isso eu poderia aprender sozinho
ou com qualquer outro ser humano,
lendo, amando ou simplesmente vivendo...
mas, na verdade, foi mesmo convivendo
com quem, para mim, era muito mais do que gente:
O cachorro da minha infância...
Para Linho (1980-983) e Trois (1985-1990), os cachorros da minha infância
Campina Grande, 08 de maio de 2010