O objetivo deste blog é divulgar toda a minha produção poética, sem prejuízo de continuar a ser postada também no Portal de Poesia Rodolfo Pamplona Filho (www.rodolfopamplonafilho.blogspot.com).
A diferença é que, lá, são publicados também textos alheios, em uma interação e comunhão poética, enquanto, aqui, serão divulgados somente textos poéticos (em prosa ou verso) de minha autoria, facilitando o conhecimento da minha reflexão...
Espero que gostem da iniciativa...

terça-feira, 18 de abril de 2023

Meus colegas, alunos, amigos e parentes dos formandos.

 




Meus colegas, alunos, amigos e parentes dos formandos.

Meus afilhados.

 

                        Um bom discurso em uma solenidade deve ser alto o suficiente para ser ouvido, claro o suficiente para ser entendido e curto o suficiente para ser aplaudido.

                        O que significa ser “Patrono” de uma turma?

                        Em uma formatura, o Patrono ou a Patronesse é o padrinho ou a madrinha dos formandos.

                        Em um país em que a língua portuguesa tem sido maltratada ou reconstruída a fórceps, eu peço que parem de usar a expressão “Patrona” para se referir a advogadas ou a madrinhas de formandos...

                        Se olharem os dicionários mais tradicionais, verão que “Patrona” não significa isto, sendo uma palavra com tantas acepções, que serve como sinônimo para patuá, cartucheira, algibeira, balaio e até mesmo a venenosa cobra Jararacuçu...

                        Aprendida a lição da expressão adequada, qual é o seu significado?

                        As figuras de Patrono ou Patronesse, assim como as de Paraninfo ou Paraninfa, servem, na tradição acadêmica, para destacar uma personalidade no âmbito do corpo científico. Em geral, é uma pessoa de notório saber teórico ou prático, reconhecida pela competência e padrão de referência na área específica de conhecimento.

                        É uma glória universitária, que não deve ser objeto de mercado, mas, sim, de demonstração de reconhecimento por uma história de vida, seja em geral, seja no contexto do grupo que encerra suas atividades.

                        A missão de um Paraninfo ou Paraninfa é ser a figura paterna ou materna, que acolhe e ensina aqueles que o/a elegeram para este mister.

                        E qual é a missão de um patrono ou patronesse?

                        A missão de patrono de uma turma é ser o seu defensor.

                        É ser aquele que vai assumir a sua defesa perante a sociedade.

                        É aquele que testemunhará o seu compromisso em contribuir para o bem do mundo, do Direito e da Justiça.

                        Honrado estou, portanto, com tal distinção.

                        E somente a palavra de gratidão deve ser aqui manifestada como retribuição por tal galardão.

                        Mas mais do que isto, quiseram vocês, jovens que estreiam suas novas vidas no Direito, que eu, na condição de patrono – e, por isso, padrinho da turma! – fizesse um rápido pronunciamento nesta solenidade.

                        E tem de ser rápido mesmo, pois o Cerimonial estabeleceu um prazo mínimo para este discurso.

                        Mas é bom que seja rápido realmente, pois não há nada mais maçante em uma formatura do que um discurso “nas nuvens”, sem qualquer interação com a audiência, principalmente se for proferido por quem não é o efetivo legitimado para tal tarefa, uma vez que, tradicionalmente, é somente o paraninfo ou paraninfa, homenagem mais importante de qualquer colação de grau, que deve pronunciar as derradeiras palavras da despedida.

                        E tenho certeza de que vocês terão uma excelente “aula final”, pela inteligência, brilho, cultura e simpatia da minha querida ex-aluna e hoje colega e amiga Professora Juliana Costa Pinto.

                        Com a consciência, portanto, de que devo ser apenas a “entrada” para o “prato principal”, tentarei fazer um pronunciamento que seja leve e legitimado pela autenticidade de nossa experiência e pelos motivos que fizeram vocês me elevarem a esta tribuna.

                        Eu conheci esta turma em várias fases.

                        Ensinei “Direito Individual do Trabalho”, “Prática Trabalhista Supervisionada” e “Clínica de Direito de Negócios” em diferentes momentos da sua graduação.

                        Fui orientador de Trabalho de Conclusão de Curso de diversos membros desta turma, com resultados louváveis, dignos de aplausos.

                        Acompanhei sonhos e projetos, bem como vi cada um e cada uma crescer no curso e na vida...

                        Agora, encontro vocês no rito final – uma solenidade que dá uma satisfação às suas famílias, incorporando-as ao nosso convívio, para participar desta celebração da conclusão da maior parte dos projetos iniciais.

                        E o que devo dizer neste momento?

                        Qual é a mensagem derradeira deste velho professor?

                        O que alguém, com mais do dobro da idade da maioria de vocês, poderia trazer de novo neste momento?

                        O que alguém, que provavelmente viverá menos do que já viveu, poderia trazer para jovens, que ainda estão aprendendo sobre a vida?

                        Eu gostaria de propor uma reflexão: a diferença entre a pessoa e o seu papel no meio em que vive.

                        A conclusão efetiva de um curso de graduação, com a declaração da Universidade de sua aprovação em todas as etapas de formação, os habilita para o exercício de uma missão.

                        Durante estes mais de 30 (trinta) anos no âmbito do Direito, quase todos eles no exercício da magistratura e do magistério, vivi e acompanhei mais de uma geração de profissionais.

                        Quase todos os membros do Corpo Docente da nossa instituição foram, de alguma forma, meus alunos, seja na graduação, especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado, cursos preparatórios para concurso ou simplesmente estudando pelos meus livros...

                        Isto me dá uma quilometragem existencial para conseguir falar das coisas do mundo e, para quem crê e mesmo para quem não crê, das mensagens da religiosidade, sem proselitismos ou confusões dogmáticas.

                        Na primeira carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 6, versículo 12, há uma lição importantíssima: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. "Tudo me é permitido", mas eu não deixarei que nada me domine.

                        Nesta sociedade de discursos de ódio, aprendam que seu papel não é simplesmente reproduzir a técnica, mas, sim, agir com ética e respeito às instituições, às tradições, às liberdades e ao Estado Democrático de Direito.

                        Não há alucinação ou paranoia que possam justificar quem conspira para a distorção das imprescindíveis liberdades de expressão e reunião, sob a ilusão de que a vontade popular não foi respaldada só porque não coincide com a que respira em sua bolha pessoal ou familiar.

                        Não são os erros de um ou de outro grupo que respaldarão as convicções sem provas daqueles que se acham superiores à efetiva vontade da nação.

                        O sempre lembrado Ulysses Guimarães disse certa feita:

                        “A grande força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não acontece com os sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e oniscientes para que sejam irresponsáveis e onipotentes.”

                        Desconfiem sempre de quem se arvora perfeito, de quem só vê defeito no outro ou de quem acha que tudo vai dar errado simplesmente porque não está sendo feito como se imaginou inicialmente.

                        Vocês são jovens.

                        O presente e o futuro são de vocês.

                        E isso é fascinante e, ao mesmo tempo, aterrorizante.

                        Para todo sonho, desejo, projeção, há sempre um medo, uma incerteza, uma hesitação.

                        O que fazer neste mundo dividido? Como enfrentar um mercado de trabalho que se anuncia super lotado? Como separar o joio do trigo e a luta pela subsistência da realização da legítima vocação?

                        Não tenham medo das batalhas! Elas virão!

                        Não desabem com os insucessos! Eles ocorrerão!

                        Mas não se entreguem.

                        Lutem sempre!

                        No mundo de “Chat GPT”, quem sabe realmente escrever é o diferenciado!

                        No mundo do “Control C / Control V”, quem verdadeiramente pensa e constrói é o destacado.

                        No mundo que tem nostalgia de como aprendeu e saudade do que nem sempre viveu, vocês encontrarão dinossauros propugnando pelo retorno do que parecia superado! Isto serve tanto para a política, quanto para o uso da tecnologia ou para o apego à legislação revogada ou à doutrina superada.

                        Recusem-se a aceitar isto!

                        A advocacia é arte dos que não têm medo!

                        O Direito é a garantia da segurança em uma sociedade que insiste em se sabotar!

                        E o que nos diferencia dos irracionais e das inteligências artificiais é a nossa capacidade de adaptação!

                        Adaptem-se, sem perder o seu “primeiro amor” pela Justiça!

                        E se realizem como seres humanos!

 

 

 

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