Meus colegas, alunos, amigos
e parentes dos formandos.
Meus afilhados.
Um bom discurso em uma solenidade deve ser
alto o suficiente para ser ouvido, claro o suficiente para ser entendido e
curto o suficiente para ser aplaudido.
O que significa ser “Patrono” de uma turma?
Em uma formatura, o Patrono ou a Patronesse é o padrinho ou
a madrinha dos formandos.
Em um país
em que a língua portuguesa tem sido maltratada ou reconstruída a fórceps, eu
peço que parem de usar a expressão “Patrona” para se referir a advogadas ou a
madrinhas de formandos...
Se olharem
os dicionários mais tradicionais, verão que “Patrona” não significa isto, sendo
uma palavra com tantas acepções, que serve como sinônimo para patuá,
cartucheira, algibeira, balaio e até mesmo a venenosa cobra Jararacuçu...
Aprendida a
lição da expressão adequada, qual é o seu significado?
As figuras
de Patrono ou Patronesse,
assim como as de Paraninfo ou Paraninfa, servem, na tradição
acadêmica, para destacar uma personalidade no âmbito do corpo
científico. Em geral, é uma pessoa de notório saber teórico ou prático,
reconhecida pela competência e padrão de referência na área específica de
conhecimento.
É uma
glória universitária, que não deve ser objeto de mercado, mas, sim, de
demonstração de reconhecimento por uma história de vida, seja em geral, seja no
contexto do grupo que encerra suas atividades.
A missão de
um Paraninfo ou Paraninfa
é ser a figura paterna ou materna, que acolhe e ensina aqueles que o/a elegeram
para este mister.
E qual é a
missão de um patrono ou patronesse?
A missão de patrono de uma turma é ser o seu
defensor.
É ser aquele que vai assumir a sua defesa perante
a sociedade.
É aquele que testemunhará o seu compromisso
em contribuir para o bem do mundo, do Direito e da Justiça.
Honrado estou, portanto, com tal distinção.
E somente a palavra de gratidão deve ser aqui
manifestada como retribuição por tal galardão.
Mas mais do que isto, quiseram vocês, jovens
que estreiam suas novas vidas no Direito, que eu, na condição de patrono – e,
por isso, padrinho da turma! – fizesse um rápido pronunciamento nesta
solenidade.
E tem de ser rápido mesmo, pois o Cerimonial
estabeleceu um prazo mínimo para este discurso.
Mas é bom que seja rápido realmente, pois não
há nada mais maçante em uma formatura do que um discurso “nas nuvens”, sem
qualquer interação com a audiência, principalmente se for proferido por quem
não é o efetivo legitimado para tal tarefa, uma vez que, tradicionalmente, é
somente o paraninfo ou paraninfa, homenagem mais importante de qualquer colação
de grau, que deve pronunciar as derradeiras palavras da despedida.
E tenho certeza de que vocês terão uma
excelente “aula final”, pela inteligência, brilho, cultura e simpatia da minha querida
ex-aluna e hoje colega e amiga Professora Juliana
Costa Pinto.
Com a consciência, portanto, de que devo ser apenas
a “entrada” para o “prato principal”, tentarei fazer um pronunciamento que seja
leve e legitimado pela autenticidade de nossa experiência e pelos motivos que
fizeram vocês me elevarem a esta tribuna.
Eu conheci esta turma em várias fases.
Ensinei “Direito Individual do Trabalho”,
“Prática Trabalhista Supervisionada” e “Clínica de Direito de Negócios” em
diferentes momentos da sua graduação.
Fui orientador de Trabalho de Conclusão de
Curso de diversos membros desta turma, com resultados louváveis, dignos de
aplausos.
Acompanhei sonhos e projetos, bem como vi
cada um e cada uma crescer no curso e na vida...
Agora, encontro vocês no rito final – uma
solenidade que dá uma satisfação às suas famílias, incorporando-as ao nosso
convívio, para participar desta celebração da conclusão da maior parte dos
projetos iniciais.
E o que devo dizer neste momento?
Qual é a mensagem derradeira deste velho
professor?
O que alguém, com mais do dobro da idade da
maioria de vocês, poderia trazer de novo neste momento?
O que alguém, que provavelmente viverá menos
do que já viveu, poderia trazer para jovens, que ainda estão aprendendo sobre a
vida?
Eu gostaria de propor uma reflexão: a
diferença entre a pessoa e o seu papel no meio em que vive.
A conclusão efetiva de um curso de graduação,
com a declaração da Universidade de sua aprovação em todas as etapas de
formação, os habilita para o exercício de uma missão.
Durante estes mais de 30 (trinta) anos no
âmbito do Direito, quase todos eles no exercício da magistratura e do
magistério, vivi e acompanhei mais de uma geração de profissionais.
Quase todos os membros do Corpo Docente da
nossa instituição foram, de alguma forma, meus alunos, seja na graduação,
especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado, cursos preparatórios para
concurso ou simplesmente estudando pelos meus livros...
Isto me dá uma quilometragem existencial para
conseguir falar das coisas do mundo e, para quem crê e mesmo para quem não crê,
das mensagens da religiosidade, sem proselitismos ou confusões dogmáticas.
Na primeira carta de Paulo aos Coríntios,
capítulo 6, versículo 12, há uma lição importantíssima: “Tudo me é permitido, mas nem tudo
convém. "Tudo me é permitido", mas eu não deixarei que nada me
domine.”
Nesta sociedade de discursos de ódio,
aprendam que seu papel não é simplesmente reproduzir a técnica, mas, sim, agir
com ética e respeito às instituições, às tradições, às liberdades e ao Estado
Democrático de Direito.
Não há alucinação ou paranoia que possam
justificar quem conspira para a distorção das imprescindíveis liberdades de
expressão e reunião, sob a ilusão de que a vontade popular não foi respaldada
só porque não coincide com a que respira em sua bolha pessoal ou familiar.
Não são os erros de um ou de outro grupo que
respaldarão as convicções sem provas daqueles que se acham superiores à efetiva
vontade da nação.
O sempre lembrado Ulysses Guimarães disse
certa feita:
“A grande força da democracia é
confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não acontece com os
sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e oniscientes para que
sejam irresponsáveis e onipotentes.”
Desconfiem sempre de quem se arvora perfeito,
de quem só vê defeito no outro ou de quem acha que tudo vai dar errado
simplesmente porque não está sendo feito como se imaginou inicialmente.
Vocês são jovens.
O presente e o futuro são de vocês.
E isso é fascinante e, ao mesmo tempo,
aterrorizante.
Para todo sonho, desejo, projeção, há sempre
um medo, uma incerteza, uma hesitação.
O que fazer neste mundo dividido? Como
enfrentar um mercado de trabalho que se anuncia super lotado? Como separar o
joio do trigo e a luta pela subsistência da realização da legítima vocação?
Não tenham medo das batalhas! Elas virão!
Não desabem com os insucessos! Eles
ocorrerão!
Mas não se entreguem.
Lutem sempre!
No mundo de “Chat GPT”, quem sabe realmente
escrever é o diferenciado!
No mundo do “Control C / Control V”, quem
verdadeiramente pensa e constrói é o destacado.
No mundo que tem nostalgia de como aprendeu e
saudade do que nem sempre viveu, vocês encontrarão dinossauros propugnando pelo
retorno do que parecia superado! Isto serve tanto para a política, quanto para
o uso da tecnologia ou para o apego à legislação revogada ou à doutrina
superada.
Recusem-se a aceitar isto!
A advocacia é arte dos que não têm medo!
O Direito é a garantia da segurança em uma
sociedade que insiste em se sabotar!
E o que nos diferencia dos irracionais e das
inteligências artificiais é a nossa capacidade de adaptação!
Adaptem-se, sem perder o seu “primeiro amor”
pela Justiça!
E se realizem como seres humanos!
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