O objetivo deste blog é divulgar toda a minha produção poética, sem prejuízo de continuar a ser postada também no Portal de Poesia Rodolfo Pamplona Filho (www.rodolfopamplonafilho.blogspot.com).
A diferença é que, lá, são publicados também textos alheios, em uma interação e comunhão poética, enquanto, aqui, serão divulgados somente textos poéticos (em prosa ou verso) de minha autoria, facilitando o conhecimento da minha reflexão...
Espero que gostem da iniciativa...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O Dia


Rodolfo Pamplona Filho

É hoje o dia!
E o sangue dá nova pulsada
como um atleta de corrida...
Será que, antes da chegada,
já será despedida?

É hoje o dia!
E a ansiedade
toma todo o corpo,
como se a vontade
aproximasse o porto...

É hoje o dia!
Mas que desespero!
A cada minuto de espera,
tenho um pesadelo
de que serei esquecido na terra...

É hoje o dia!
Tenho a esperança
de que tudo vai dar certo
toda vez que vem a lembrança
de que o momento está perto!

É hoje o dia!
Recebi a confirmação
de que não houve desistência,
o que faz meu coração
renovar sua resistência!

É hoje o dia!
É agora a hora!
Por isso, sem demora,
farei o que sempre quis:
apenas ser feliz.

Salvador, 26 de agosto de 2011.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Amigo



Rodolfo Pamplona Filho (2001)

“Amigo é o pai ou o irmão,
que a gente elege pelo coração;
é alguém para dividir o pão,
o sonho, a lágrima e a canção;
é aquele que abraça com vontade,
sem medo de falar sempre a verdade.
E mesmo que isso não seja lá muito agradável,
também é saber dizer não com um sorriso amável.
É alegrar-se com a vitória e consolar na derrota...
É perguntar como está e aguardar a resposta...
É partilhar a risada, o ombro e o ouvido...
Esse é o sentido da palavra AMIGO.”

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

De repente, você...


Rodolfo Pamplona Filho

Sua mão me fez buscar o caminho
que há muito procurei
nos seus olhos, notei o cantinho
que há muito desejei

A vida me deu rasteiras
que eu nunca esperei.
mas o céu não limitou o espaço
que eu sempre acreditei

Assim. construí minha vida.
caminhando com sensatez
e, de repente, você aparece
como nunca imaginei...

San Francisco, 30 de setembro de 2010.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Felicidade



Rodolfo Pamplona Filho

Para ser feliz,
você não precisa procurar
até cansar...
...alguém para amar...

Para ser feliz,
você não precisa ter filhos
como se a descendência
fosse o único sentido de viver...

Para ser feliz,
você não precisa ter um bom emprego
para vender, por alto que seja o valor,
o inestimável gosto de seu suor

Para ser feliz,
você não precisa ter casa própria
pois um teto apenas serve
para proteger do frio e do sol

Para ser feliz,
você não precisa ser popular
como se a aceitação alheia
fosse a coisa mais importante da vida

Para ser feliz,
você não precisa viajar o mundo todo
já que conhecer a si mesmo
é a maior viagem de toda a vida

Para ser feliz,
você não precisa ter um Deus
Pois Ele estará no mesmo lugar
Independentemente da sua fé

Para ser feliz,
você não precisa ter amigos
embora isso ajude muito
nos momentos de solidão

Para ser feliz,
você não precisa ter conhecimento
pois conhecer como as coisas funcionam
nunca trouxe alegria a ninguém

Para ser feliz,
você não precisa ter dinheiro
pois, na morte, ninguém reclama
por não ter investido mais na bolsa

Para ser feliz,
você não precisa sequer ter saúde
já que nem todo doente
é um pessimista incorrigível

Para ser feliz,
você não precisa mais
do que estar vivo
e aprender a viver só...
e só...

Ciudad Real, 26 de setembro de 2008, e
Madrid, 05 de outubro de 2009

sábado, 19 de dezembro de 2015

Momentos Refletidos...



Momentos Refletidos...

Ela escreve... na multidão!
um trecho de crônica, uma canção
um testamento, uma confissão
Isso não importa,
e sim que
Ela escreve... na multidão!
um conto, um verso ou um recado
talvez uma carta para o namorado
Isso não importa,
e sim que
Ela escreve... na multidão!
um bilhete, um sonho, uma imagem
um desejo escondido, uma mensagem
Isso não importa,
e sim que
Ela escreve... na multidão!
uma prece, um poema ou um recado
quem sabe um segredo há muito guardado
Isso não importa,
e sim que
Ela escreve... na multidão!

Tomo cuidado para não perturbá-la
e, à distância, fico a amá-la,
mas...
Isso não importa
e sim que
Ela escreve... na multidão!

(22.01.92)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Adoção Afetiva


Rodolfo Pamplona Filho
A vida me contemplou
com filhos maravilhosos,
tanto no sangue,
quanto no coração!

Isso se dá, com fé,
pois, definitivamente,
a paternidade não é
uma biologia permanente.

É muito mais do que isso:
é uma eleição de paradigma
de quem assume o compromisso
de não ser um enigma.

Apadrinha-se, torna-se companheiro,
confidente, ombro amigo e parceiro.
Comemora-se junto, chora-se também,
da verdade biológica, vai-se além...

A paternidade por adoção afetiva
honrou-me com um carinho
que nem todos têm na vida...
que não se compreende sozinho...

mas que é a prova mais dura
de que pessoas podem se amar
e se entregar de forma pura,
sem qualquer outro interessar,

como deveria ser, aliás,
em qualquer verdadeira relação
de um afeto que não volta atrás...
de uma escolha consciente de devoção.

Aracaju, 07 de outubro de 2010.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Saudade de Casa



Rodolfo Pamplona Filho

Por vezes, tenho vontade de chorar...
Sei o motivo, mas não consigo controlar
Há um vácuo que preenche o que era completo
Uma carência de beijo, dengo e afeto

Não sei o que é pior: a distância ou a despedida;
O romper do contato no momento da partida
Um olhar para trás, um abraço apertado,
um aceno tristonho, um olhar desolado...

Como uma dor machuca tanto sem ferir?
Como dominar o que posso apenas sentir?
A paz é arrancada desde a raiz
Uma marca viva que não vira cicatriz...

Pense duas vezes antes de reclamar
Dos problemas da vida, da rotina do lar...
Há tristeza que ninguém sabe como se mede
Só se valoriza o que se tem quando se perde

A lágrima vem solta e quente
Quem negar isso apenas mente
mas faz bem, porque, como um rio
leva o fel para um outro lado vazio....

A cada alvorecer, há uma nova esperança...
que surge inocente, como sorriso de criança,
mudando planos e rumos, batendo asa,
tudo por causa da saudade de casa...

Ciudad Real, 09 de setembro de 2008

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Wilderness


Wilderness

How many times
have you heard my shy voice
telling feelings that
don’t have meaning in words?

How many times
must I tell you that I miss you
while a storm of tears
keep crumbling from my face

And even if
the sky should fall down
and the ocean
turns to a desert

I won’t
be afraid of passion
‘cause the more you love,
the more you grown

So, do you think it’s over
and time will pass
like summer rain
So, do you think you can let me
with my wilderness
waiting for a call,
wishing you were here again

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho (1992)

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Perdendo a Fé


Rodolfo Pamplona Filho
Será possível definir o momento
em que se passa a crer em algo?
Se isto for aceitável,
por que não o seria
o instante em que se perde a fé?
A fé como a certeza
no que não se vê...
A fé como a esperança
que não se está só...
A fé como a motivação
para ainda confiar em alguém...

A fé não se explica: sente-se...
como um sopro no calor,
um abraço no temor,
uma luz na escuridão,
uma pausa na aflição...
A fé consola e acalma,
traz paz ao fundo da alma,
transforma a derrota em vitória
e muda o sentido da história.

Em que se perde a fé?
No homem, na lição,
na promessa, na salvação,
no governo, no projeto,
no caminho estreito e reto...
Perde-se fé na igreja
ou na comunidade,
na capacidade benfazeja
de falar a verdade...

Há como não perder a fé,
quando isto soa inevitável?
Há como permanecer de pé,
diante do inominável?
Há como acreditar na graça,
sem esperar um salvador?
Perder a fé é uma desgraça...
E isto é desolador,

pois o que se pode fazer quando
se descobre ter perdido a fé?
Reencontrar a estrada de outrora,
como se tantos passos
já não tivessem sido dados?
Como se tantas experiências
não tivessem diferentes lados?
Como se fosse possível desprezar
toda a vida posterior?
Como se a vontade pudesse apagar
singelamente toda dor?

Perdi a fé,
perdendo a fé...
Salvador, 07 de novembro de 2010.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Resposta




Eu respondo com o silêncio
Dos que foram forçados...
... a calar...
... por ter coragem
Eu respondo com as lágrimas
Das mães da Plaza de Mayo...
... que choraram...
... de verdade
Eu respondo com o sangue
Jorrado e derramado...
... na Praça da Paz...
... onde se fez a guerra
Eu respondo com a dor,
A dor que torturados...
...que morreram por não pensar...
... igual a quem tinha...
O poder...
... para mudar
O poder...
... para fazer sofrer
e matar.

(1991)
Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho

domingo, 13 de dezembro de 2015

Filhas crescem

Filhas crescem

Rodolfo Pamplona Filho
O bebê que vi nascer
e carreguei no colo
desabrochou com a primavera
de um tempo que não para...
E se viu menina...
E se viu moça...
E se viu mulher...
E se viu mãe...
Mãe de meu neto...
Retomando o ciclo,
carregando o bastão
e redescobrindo a gênese,
que nunca terminará...


Rio de Janeiro, noite de 20 de setembro de 2013, refletindo sobre o tema e uma musica de John Mayer no Rock in Rio.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Direito Skinhead


Direito Skinhead
Rodolfo Pamplona Filho

Princípio da Truculência Máxima:
In dubio, pau no réu..
Tal qual em “O Pequeno Príncipe”,
você se torna eternamente responsável
pelas empresas que cria...
Afinal de contas,
o processo judicial não pode
ter sensação de coito interrompido...

Quebra de sigilo fiscal,
bancário, telefônico e pessoal:
tudo isso é fichinha
para o que se está
disposto a fazer,
para, em seu entender,
cumprir o seu dever...

Bloquear suas contas,
restringir o seu crédito,
mandar prendê-lo,
se deixassem...
Não há limites
para a sede de justiça,
ainda que seja para beber
todo o seu sangue e seu suor...

Quando o Direito
não é respeitado,
tanto na vida,
quanto no processo...

Quando o Direito
parece ser apenas
um conto de fadas
ou uma história de Carochinha...

Quando o Direito
reconhece que não há
limites para a criatividade humana
quando se quer manobrar para não honrar,
fugir ou fraudar direitos...

Quando o Direito
definitivamente
precisa ser reinventado
para ser efetivado,
não há mais salvação:
É o tempo e lugar
do Direito Skinhead!

Salvador, 04 de setembro de 2010, estressado em um sábado...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Meretrizes da Zona Sul (extended version)


Meretrizes da Zona Sul (extended version)

São como rosas,
cheias de espinhos;
são como pedras,
mudando caminhos;
anjos das alcovas, com lábios de mel...
vidas amargas, no mais puro fel...
Ela são
Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!
Pobres mulheres!
Meretrizes da Zona Sul

Corpos maculados,
com almas tão puras
Feras escondidas
em doces criaturas.
Preferem a dor do que a solidão,
vendendo a si próprias, em busca do pão.
Ela são
Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!
Pobres mulheres!
Meretrizes da Zona Sul

Deusas pagãs
Senhoras da Vida
Fêmeas amadas
Temidas, feridas
São bichos selvagens em jaula de pedra
Crianças perdidas no meio da selva
Ela são
Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!
Pobres mulheres!
Meretrizes da Zona Sul

“É melhor ser meretriz do que ser ladrão” (será mesmo?)
“Vendo meu corpo, mas não vendo minha alma!” (será mesmo?)

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho
(2004)

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Gratidão


Gratidão
Rodolfo Pamplona Filho

Gratidão não se exige,
não se pede, nem se espera...
É presente de um coração puro,
que não vê outra forma de agir,
na memória da marca do passado
e do alívio do auxílio no desespero...

Por isso, a ingratidão machuca
como punhaladas nas costas,
como um tapa no rosto,
como uma dor fatal no peito...

O ingrato merece mais do que repúdio:
é pena de morte no coração,
que se fecha em uma ferida purulenta,
cujos bálsamos somente são
o ostracismo ou a ressurreição do perdão...

Reconhecer-se grato é o exercício da verdadeira humildade,
que é saber que, sozinho, não se consegue nada,
pois conquistas isoladas são vitórias de Pirro,
em que obter o resultado não significa necessariamente desfrutá-lo...

Gratidão é a resposta sincera
que o afeto exige por coerência!
É a marca que renova a esperança,
que não é a última que morre, posto imortal,
mas, sim, a certeza de que
ainda se pode ter fé na humanidade

Maceió, 03 de setembro de 2010

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Amor em Fases


Amor em Fases

Rodolfo Pamplona Filho

Apaixonei-me pela ninfeta de 14
Conheci a jovem de 34
Entreguei-me à mulher de 54
Envelheci feliz com a senhora de 74
Amei-a intensamente em todas as suas fases...

San Francisco, 30 de setembro de 2010.


domingo, 29 de novembro de 2015

O Absurdo Nosso de Cada Dia


O Absurdo Nosso de Cada Dia
Rodolfo Pamplona Filho

A cada dia que passe,
entendo menos o meio que vivo,
em que se precisa explicitar o óbvio,
como se fosse vital advertir do evidente.

Vejo placas que não compreendo:
Proibido pegar carona em ônibus...
Fale com o motorista só o necessário...
Não jogue lixo nas ruas...
Dê descarga após usar o sanitário...

Vejo expressões que não entendo:
Hora extra habitual...
Opção obrigatória...
Demais como coisa boa...
Monstro como alguém do bem...

Vejo tratamentos que não entendo:
Tio sem parentesco...
Mestre sem Mestrado...
Doutor sem Doutorado...
na verdade, sem um curso sequer...

Pedir desculpas por qualquer coisa...
Ultrapassar o velho sinal vermelho de Caetano...
Insistir quando já se repetiu o não...
É difícil pensar em alemão,
pois não há limites para a idiotice coletiva
que não cansa de manter viva
a esperança de, um dia, surpreender...

Salvador, 08 de setembro de 2010, pensando em alemão...

sábado, 28 de novembro de 2015

Morrer é Doce!


Morrer é Doce!
Rodolfo Pamplona Filho

Quando em meu peito, romper-se a corrente
Que a alma me prende à dor de viver
Não quero por mim, nem uma lágrima,
Nem um suspiro, nem um sofrer...
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu passamento.
Não quero que um sorriso
Se apague pelo fim do meu triste tormento!

Viver foi peregrinar no deserto,
Procurando achar o que não estava escondido,
viver foi submergir no tédio,
Tentando encontrar o que já estava perdido
Quando se esgotar o meu suspiro,
Não desfolhe por mim sequer uma flor!
Não tornai outro ente matéria inútil.
Sozinho, da morte, deixai-me o torpor!

No meu epitáfio, escrevas:
Foi homem e, pela vida, passou
Como nas horas de um pesadelo
Que só, com a bela senhora, acordou

Descansem meu leito solitário
À sombra de um triste cipreste,
Numa floresta há muito esquecida
Onde não usurpem o que ainda me reste.
Este parece ser meu desejo final
Neste esperado momento de verdade nua.
Eis-me pronto para beijar a bela senhora
E ver como a morte é doce e crua!
(1989)

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A Banalização da Morte


A Banalização da Morte
Rodolfo Pamplona Filho

A TV divulga, a rádio anuncia,
o jornal comunica
o saldo das mortes do final de semana...
o trânsito, o acidente doméstico
ou a costumeira e pontual queima de arquivo...

Normal...

Ouvimos impassíveis,
tomando o café nosso de cada dia,
no meio das notícias políticas
ou da alegria ou tristeza com
o resultado do jogo do nosso time...

Normal...

Não há espaço para indignação,
nem mesmo há tempo para isso...
A informação passa por
nossos olhos e ouvidos
como uma brisa imperceptível...

Normal...

O sangue escorre das imagens,
do som e dos papéis...
mas não se sente nada...
Anestesia coletiva, difusa e impessoal...
A apatia e a indiferença
não fazem acepção de pessoas...

Normal...
Normal?

Salvador, 16 de agosto de 2010, uma segunda-feira sangrenta...

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O Fim do Amor


O Fim do Amor
Rodolfo Pamplona Filho

Qual é o fim do amor?
O que move alguém a achar
que não pode viver sem amar?

Qual é o fim do amor?
Por que algo tão maravilhoso
pode ser tão doloroso?

O que alimenta o amor?
As promessas? A parceria?
Os sonhos? Ou a hipocrisia?

O que alimenta o amor?
O respeito? A tolerância?
Os filhos? A esperança?

O que mantém vivo o amor?
O desejo? A vontade?
O medo? A necessidade?

O que mantém vivo o amor?
A fidelidade? O carinho dado?
A cumplicidade? Ou o papel assinado?

Qual é o fim do amor?
O casamento? A monotonia?
O divórcio? Ou a ironia?

Qual é o fim do amor?
Eu não sei...
pois o fim do amor é amar...

Salvador, 12 de abril de 2010

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O Remédio Amargo


O Remédio Amargo
Rodolfo Pamplona Filho

Pode chegar um momento em suas vidas
Em que a Paixão se torna amizade,
para depois virar educação;
em que Tom Jobim e Vinícius de Moraes viram Kid Abelha,
em que o “Eu sei que vou te amar”
vira “o nosso amor se transformou em bom dia”;
em que a sua identidade de amante
é convertida em ser pai ou mãe de alguém...

Pode chegar um momento em suas vidas
em que o sexo se torna burocrático,
como um ponto a ser batido
ou um dever a ser agendado;
em que qualquer coisa é motivo para dizer não,
como se precisasse de algo para dizer não...
ou quando o “não quero”, “não pode”, “não faço”, “não vou”
se tornam mais comuns do que o “eu te amo”...

Pode chegar um momento em suas vidas,
em que não há mais gota d’água a esperar,
pois o cálice já transbordou há muito;
em que o silêncio é menos constrangedor
do que ouvir a voz do ente antes amado,
em que a ansiedade de conhecer o outro
é substituída pelo marasmo absurdo
da convivência com falta de assunto...

Pode chegar um momento em suas vidas
em que o resgate dos sentimentos de outrora
é visto como uma chatice ou perda de tempo;
em que as lembranças de momentos felizes
são vistas como um “mico” de um passado distante
em que a tentativa de diálogo é interrompida
por um bocejo ou por um olhar no infinito;
em que se percebe que o desrespeito tem perdão,
mas a monotonia não tem solução...

Pode chegar um momento em suas vidas,
em que se discute compatibilização de horários,
como se o que se tornou um já tivesse desvirado;
em que o trabalho dá prazer e o prazer dá trabalho,
onde o stress é preferível à companhia do outro;
em que vale pena se submeter voluntariamente
a um instrumento de tortura medieval,
em que passar a vida esperando a morte não soa assim tão mal...

Pode chegar um momento em suas vidas,
em que a promessa não consegue mais prevalecer;
em que a experiência derrota a esperança;
em que não faz mais sentido permanecer...
em que não há mais nada a fazer,
senão tomar o remédio amargo,
na agonia que o veneno feche e cicatrize a ferida,
em vez de provavelmente matar o paciente.

Rio de Janeiro, 24 de abril de 2010

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Rima Rica


Rima Rica
Rodolfo Pamplona Filho

Nada é tão belo que se retrate
melhor do que a tessitura de seus seios:
maciez e firmeza de alto quilate,
poucos sabem seus segredos mas... eu sei-os!

O fogo do desejo nasceu ao vê-la,
brilhando como tocha a iluminar o caminho
de quem procura o norte em uma estrela
na esperança imortal de não permanecer sozinho.

Quem se encantou com seus cabelos disserta
sobre a sensação de ir ao céu em um instante;
quem já chorou por você diz: certa
mulher nasceu para viver distante...

Dos seus lábios, quero, ao menos, um selo
que, na falta de mais, já me aquece...
Olhar para seu corpo e não tê-lo
é decretar o fim da nossa espécie.

Somente aquele que, no paraíso, habita
pode compreender o que se passa aqui:
a concupiscência quase infinita
pela oportunidade de você me ouvir...

Vestirei a minha roupa de gala,
se isso puder deixá-la feliz.
Meu nirvana é abraçá-la
E retirar finalmente esta cicatriz

de uma saudade que me martiriza
como um cigarro que me mata enquanto trago...
como um exército que invade a divisa...
como quem percebe o tamanho do estrago...

Chega uma hora em que se quer vergonha na cara
para ter coragem de ter a cabeça ereta
e saber que todo grito, um dia, cala
e todo alvo, algum momento, alguém acerta!

De quem eu seria, se seu não fosse?
A quem dedicaria este sangue espesso
que flui intenso, vermelho e doce
da ferida aberta que agradeço?

Toda tristeza, a vitória espalma
e da lamentação, eu mesmo declino,
ao conseguir preencher a minha alma
com seu amor, que é o mesmo destino.

No vôo para João Pessoa/PB, 18 de julho de 2010.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Esperança


Esperança
Rodolfo Pamplona Filho

O futuro há de ser melhor do que o presente
e infinitamente superior ao passado recente,
pois guarda em sim um querer
que se renova a cada alvorecer

Não é o amor que difere o homem dos outros animais...
Não é a falta de guerra que garante a paz...
Não é a pesquisa lógica que impulsiona à solução...
Não é o remédio que traz calma ao coração...

É a força que move o doente à cura...
É o que faz a alma se manter pura...
É o que se sente no sorriso da criança...
É a mais clara forma de fé: a esperança!

Viver é o exercício da persistência
em um mundo que mina sua resistência
com armadilhas dolorosas nos pontos mais sensíveis,
criando obstáculos cada dia mais terríveis...

Mas nada disso realmente importa
quando a sensação que bate à nossa porta
é uma confiança inexplicável no amanhã
com um renascer da vontade a cada manhã...

Salvador, 23 de maio de 2010
Para Micael...

domingo, 22 de novembro de 2015

Jorge, um Guitarrista


Jorge, um Guitarrista

Eu conheci um guitarrista que se chamava Jorge
Ele tinha uma “Golden” e tocava legal
e na sua vitrolinha, só tinha Rock’n’Roll
Iron Maiden, Bon Jovi, Guns ‘n’ Roses, A.C. D. C.
Mas Jorge, de repente, resolveu mudar
Ele pegou a sua guitarra e começou a tocar

E dos acordes que ele deu saiu um axé
Aí eu disse para ele: Meu irmão, qual é?!

Mas o Jorge não ouvia e continuou a tocar
E essa sua mudança não queria mais parar

Ele trocou a distorção pelo reggae do negão
Ele trocou o ACDC pelos filhos de Gandhi

E o Jorge resolveu mudar para Salvador
Um paraíso para uns, para outros um terror
Uma terra onde o profano se mistura com a fé
E para aparecer, o músico precisa tocar axé

E ele começou a curtir
O que ele ouvia ali
Araketu, Olodun
Eta Terra d’Oxum!

Para completar, o Jorge decidiu mudar seu visual
E queimou os seus cabelos para ficar mais sensual
Com penteado Rastafari, ele saiu para desfilar
E se mudou para o Pelourinho, onde agora era o seu lugar

E logo ele que falou que dessa água não beberia...
Pois agora engoliu a água, o encanamento e até a pia...

E toda a galera não acredita nesta mudança:
Ver aquele metaleiro com o cabelo em trança

Mas apesar de tudo, o Jorge está feliz
Pois até foi convidado prá tocar lambada em Paris

E essa foi a história de um cara que eu conheci
E que para falar a verdade, eu nunca mais o vi
Só espero um dia encontrá-lo no maior astral
Tocando a sua guitarra em pleno carnaval!

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho
(1990)

sábado, 21 de novembro de 2015

Canção do Exílio (se Gonçalves Dias nascesse na Bahia)



Canção do Exílio (se Gonçalves Dias nascesse na Bahia)
Rodolfo Pamplona Filho

“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”

Minha terra tem palmeiras,
onde canta o Sabiá;
mas também há outras coisas
que valem a pena apreciar...

Minha terra tem coqueiros,
cujos côcos têm uma água doce;
tão feliz eu não seria,
se baiano eu não fosse

Há um mar verde-azulado
que parece não ter fim,
com uma brisa de beijo salgado
de uma mulher que só diz sim...

Há um clima maravilhoso,
em que imperam o sol e o calor
e onde um inverno rigoroso
se limita a chuva e a frescor.

E uma comida abençoada por Deus,
que é uma mistura democrática de heranças,
convivendo negros, índios e europeus,
ensinando o respeito ao outro desde crianças.

Minha terra tem musicalidade
e um artista em cada cidadão,
fazendo festa em cada canto da cidade,
pois ser feliz não custa um único tostão.

Minha terra tem um povo hospitaleiro,
que trata o visitante como um amigo,
recebendo-o em seu ambiente caseiro,
como se fosse um companheiro antigo.

“Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.”

Não permita Deus que eu morra
e perca toda esta alegria...
sem que lembre dos amores
que deixei na minha Bahia

Não permita Deus que eu morra,
sem que eu volte para lá;
sem que eu reveja meus amores
que não existem por cá;
sem que eu chore horrores,
até reencontrar o meu lugar.

Salvador, 10 de julho de 2010

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Sorrisos


Sorrisos
Rodolfo Pamplona Filho

Todo sorriso é um enigma
mais difícil que o da esfinge
pois não há saída: ele nos devora,
seja alegre ou seja triste!

Cada dente exposto,
cada expressão no rosto
contém uma mensagem
Cada olhar brilhante,
cada riso vibrante
transmite uma imagem

Ela sorri para mim?
Ou ela sorri de mim?
Compreender é tão difícil
quanto se espera um “sim”!
Não se sabe se um sorriso
é um beijo ou uma ironia!
Não se sabe se um sorriso
emana sarcasmo ou poesia!

Por isso mesmo,
repito sempre o lugar comum:
“Sorria sempre, mesmo
que seja um sorriso triste!
Pois antes um sorriso triste
do que a tristeza
de não saber sorrir!”

(1991)
Musicado por Iuri Lemos Vieira em 2006

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Canção da Partida sem Despedida


Canção da Partida sem Despedida
Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho

Você não pensa em sua vida,
mas sabe que o tempo
corre como um louco
e está contra você!
Você se perde em si mesmo,
pensando que o prazer
dura para sempre
no gozo do poder...
Cara limpa é uma bobagem
quando o corpo não reclama
e o bom é curtir
o aqui e o agora
Trinta anos não é tarde
para começar a vida,
mas é cedo demais
para ir embora
Mas outros já foram há
mais tempo do que isso...
Há formas dolorosas
de descobrir...
toda a verdade!

Será que vale a pena
Viver intensamente?
Será que vale a pena
Partir sem despedir?
Se viver já é um risco,
todo instante é precioso,
mas isso é sem sentido
quando não se teve medo
de viver cada momento
como se esse fosse último
E a decadência ajuda
A pensar o impensável...
Será que realmente
mortes são precoces?
Ou a nossa história
já está limitada?
Que jeito de terminar
quando mal se começou
se o vazio faz sofrer
Sua sina, então, é...
... sobreviver...

Não há o que julgar
Não há o que condenar
Há apenas a saudade
e a lembrança de um tempo
em que as Jam´s e as piadas
venciam a madrugada
e o sonho era o gás
para por o pé na estrada...
Quando o riff é uma lágrima
e o solo a depressão,
parece até gostoso
morrer como um rock star...
Tudo isso para não ver
a terrível frustração
de não realizar
o que se ama fazer...
A angústia invade o peito...
A dor vem aquecer...
o nó que toma a garganta
Quem sabe se vou...
... sobreviver...

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Rompendo


Rompendo

E, de repente, o silêncio!!!
E o que era unidade
virou dois corpos abraçados
(mas não era a mesma coisa!)
E o silêncio persiste!!!
Palavras são emitidas,
mas parece não haver som
Confesso: estou com medo
(ela também!)
Medo de quê???
Medo de perdê-la
e nunca mais tê-la...
... de volta ... em meus braços
O rádio está ligado,
mas o silêncio continua... (insuportável!!!)
Fala-se sobre qualquer coisa,
mas o silêncio continua...
Será o fim?
Ou será apenas a explosão de outra neurose?
Enquanto escrevo,
meu corpo sua e treme!
Será febre?
Será medo?
Será que vou conseguir encontrar
alguém que eu goste de abraçar
alguém com quem eu possa conversar
alguém que eu possa amar,
sem ser você, amiga?
Acho difícil,
Acho impossível,
acho insuportável!
Mas, então, por que, meu Deus, por que?
Por que meu coração está confuso desse jeito?

Se eu a amo,
por que hesito?
Se não a amo,
por que existo?
Vejo seus olhos marejados
Sinto que ela vai chorar.
Se tenho vontade, por que não grito logo que a quero?
que a amo?
que a desejo?
Porque...
... sou imaturo
... sou um idiota
... sou influenciado por palavras que não vem da minha boca
nem da minha alma
nem do meu coração.
Mas, mesmo assim,
e por isso mesmo,
eu hesito quando
quando tudo seria bem mais fácil
e bem mais simples
se eu (mente, alma e coração)
apenas dissesse:

Meu amor, quero ficar contigo o resto de minha vida!

(11.10.92)

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Natureza


Natureza

Quando as cores da aquarela
Se tornarem uma só
Quando a vida, então bela,
Virar fogo, virar pó

Quando o verde virar cinza
E o céu não for anil
Vida não era mais vida,
Homem-bicho será vil

Quando o sangue derramado
Escorrer por minha mão
Lembrarei que, algum dia,
Já vivi em comunhão

E era belo, e era lindo
E era tudo o meu viver:
Homem-planta, homem-flor,
Homem-homem, Homem-ser

Não sabia que havia
Vida pura e sem dor
Bicho e homem, seres iguais,
Já viveram com amor

(1990)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Paradoxos


Paradoxos
Rodolfo Pamplona Filho

A pólvora foi criada para ajudar na caça e na remoção de obstáculos para edificações...
... não para matar...

A faca foi criada para cortar comida e auxiliar no trabalho
... não para matar...

O remédio foi criado para curar doenças
... não para matar...

A guilhotina foi criada para cortar papéis e outros materiais
... não para matar...

O automóvel foi criado para facilitar o transporte das pessoas...
... não para matar...

O avião foi criado para fazer deslocamentos por grandes distâncias
... não para matar...

O homem nasce para ser feliz e fazer os outros felizes...
... não para matar...
... não para se matar...
... não para não amar...

Maceió, 03 de setembro de 2010

domingo, 15 de novembro de 2015

Give Me


Give Me

Give me all your love
Give me all your soul
Give me all your got, mother fucker
Or you´ll never gonna see my show
Tell me all your thoughts
Tell me all your dreams
Tell me all you feel, mother fucker
Or you’ll always be alone
...you’ll never be the same
if you follow this way...

I can understand
if you’re ashamed
But if you don’t see what you do:
FUCK YOU!!!

(1992)
Letra: Rodolfo Pamplona Filho
Música: Rodolfo Ramirez e Cedric Romano

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Fantasia Fugaz II


Fantasia Fugaz II

Loucos são os que pensam
Haver padrões para uma mente
Destroços de cultura
De um mundo tão doente
Homem: ser ambíguo
Pois sua sina é a incerteza
Fruto produzido em sua própria natureza
Sem respostas, cem questões
No infinito das ilusões

Fronteiras do Inconsciente
São como sonhos: tênues linhas
As mudanças de lágrimas para risos
Têm a complexidade da noite para o dia
da tristeza para alegria

Vida, margens duma porção,
Um todo preenchendo metade,
O ciclo da dualidade
Lucidez e Loucura,
Tangentes da Razão,
Mas são frágeis correntes entrelaçadas
Numa mesma...
... canção!

Fantasia fugaz fluindo...
... como uma...
... canção!!!
Letra: Rodolfo Pamplona Filho
Música: Jorge Pigeard
(1992)

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Testamento


Testamento
Rodolfo Pamplona Filho

Como seria bom poder controlar
os rumos da vida depois do meu passar,
em uma extensão pós-morte do querer,
como se houvesse luz após o anoitecer.

Ensinaria tudo que não deu tempo de falar...
Protegeria todos aqueles que aprendi a amar...
Apagaria os rastros dos meus erros no caminho...
Confortaria todos que ficaram sem carinho...

Pediria perdão a quem eu magoei...
Explicaria o que sentia quando chorei...
Mostraria o que é o fracasso e a glória...
Tentaria dar um sentido à minha história...

O registro autêntico da minha vontade
A declaração antecipada (e inútil) da minha saudade
A eternização da vida em um único momento
A força simbólica de meu testamento.

Salvador, 23 de maio de 2010

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A Tristeza que corrói (Soneto da Depressão)



A Tristeza que corrói (Soneto da Depressão)
Rodolfo Pamplona Filho

Muitas vezes, falta-me o fogo
sem qualquer motivo aparente,
como um vazio que preenche o todo...
como uma saudade do presente...

É uma nostalgia do que não se viveu
É o gosto amargo do que não se provou
É a dor da ferida que não se abriu
É a mágoa daquilo que não se buscou

Solidão terrível na multidão
Sensação conhecida de apatia
Tristeza estranha que contagia

Choro contido na escuridão
Silêncio quase ensurdecedor
Carência evidente de amor

Salvador, 22 de agosto de 2010

terça-feira, 10 de novembro de 2015

A Comodidade que Incomoda

Rodolfo Pamplona Filho




Quando éramos pequenos,
nos ensinaram um ideal de felicidade
de uma vida estável e sem remendos
e de um amor sem insanidade...

Hoje, abrindo minha caixa dos sonhos,
vejo quão reais e bonitos eram,
pois de uma simplicidade e pureza,
que a todos agradava, com certeza!

A comodidade de uma vida perfeita
com família, casa e cozinheira
me transformou, porém, em um ser diferente,
hibernando neste novo presente

e, assim, meu pequeno coração,
dilacerado pelo mundo,
entrou em conflito profundo,
sem vislumbrar qualquer triunfo.

Algo surta dentro de mim
suplicando a por fim
a essa vida perfeita para os outros
e que tem me deixado no desgosto.

Lembro que, a cada dia, tem-se menos ar...
...do que podíamos realizar...
...do que podíamos sonhar...
...na ciranda da vida a caminhar...

O comodismo não pode tomar conta
de forma duradoura e plena
pois o futuro é aqui e agora
e não agüentará tamanha demora.





Salvador, 29 de novembro de 2010

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Deserto

Rodolfo Pamplona Filho





Minha vida se torna um deserto,
se não consigo estar com você...
Por dentro, impera o tédio
e eu sofro por não poder...
... te amar
... te abraçar
... te lançar contra a parede
... e até chamar para brigar...

Agora, eu me valeria de tudo, amado,
para poder estar em seus braços,
sentir todo seu cuidado
e me deleitar nos seu afagos...
E a febre, com certeza, subiria,
mas, não, pela doença instalada,
e, sim, pelo ardor que se cultiva
dessas nossas vidas separadas....
Salvador, 25 de outubro de 2010.

domingo, 8 de novembro de 2015

Não te prometo nada

Rodolfo Pamplona Filho






Não te prometo onde morar...
nem tão pouco como não surtar
quando a vontade de estar junto
fortemente apertar...

Não te prometo como agir...
nem tão pouco como não sorrir
quando a vida nos cruzar
e nossos olhos entrelaçar

Não te prometo vida confortável
nem tão pouco rotina estável
quando os sonhos insistirem em minar
toda forma padrão de amar

Não te prometo um anel de brilhantes
nem tão pouco que não aja com rompantes
quando quiser materializar
o que este sentimento tem a falar

E, sabe por que eu não te prometo nada?
porque você sempre me deu
a certeza de todo seu amor
também....
Salvador, 25 de outubro de 2010.

sábado, 7 de novembro de 2015

Vinte Anos

Rodolfo Pamplona Filho









Você esperaria vinte anos por mim?
Esperaria mesmo sem certeza do fim?

Esperaria ainda que sem perspectiva?
Esperaria sem ver sinais de vida?

Esperaria nossos pais falecerem?
Esperaria nossos filhos crescerem?

Esperaria nossa aposentadoria?
Esperaria renovar a luz do dia?

Esperaria diminuir o fogo sexual?
Esperaria esfriar o espirito de Natal?

Esperaria conseguir relaxar?
Esperaria reaprender a brincar?

Esperaria zerar meu trabalho?
Esperaria organizar meu horário?

Esperaria esquecer meu passado?
Esperaria encontrar novo significado?

Esperaria?
Esperaria?

Se você está disposta a enfrentar
tantos sacrifícios, sem demora,
eu não tenho que hesitar:
eu quero você aqui e agora!


Salvador, 13 de dezembro de 2010.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Caricatura de Si Mesmo

Rodolfo Pamplona Filho




Eu não quero virar
uma caricatura de mim mesmo...
Fazendo o que
as pessoas já esperam
que eu farei,
por já ter feito antes
e por parecer
que sempre irei fazer...
Eu não quero
contar as mesmas historias,
rir das mesmas piadas,
chorar as mesmas lagrimas
e viver as mesmas emoções...
Eu quero surpreender
e nem sempre saber
o que farei, comerei
ou mesmo sentirei...
Eu só quero ser
uma única coisa...
Eu só quero ser eu mesmo


Porto Alegre, 13 de abril de 2013

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Soneto da Especulação Imobiliária

Rodolfo Pamplona Filho


Qual é o preço a se pagar
para conseguir um teto
não somente para morar,
mas para estar perto



de quem se ama de verdade
e quer proteger da realidade
de um clima cruel e violento
digno de um carcará sanguinolento?

Valor algum é suficiente
para significar o espaço da gente,
onde se pode realmente descansar!

Por isso, não há como não desejar
que sofra uma morte vicária
quem vive de especulação imobiliária!


Mainz, 03 de maio de 2013.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Cadáver Vivo

Rodolfo Pamplona Filho





Acordar, comer
Banhar-se, vestir
Trabalhar, beber
Deslocar-se, dormir
Não saber o que mais fazer?
Quem sabe, talvez, viver?
Ver que um dia passa
sem, de nada, achar graça
é finalmente perguntar:
será que morri e
me esqueceram de enterrar?


Salvador, 13 de junho de 2013, após uma sessão de analise junguiana.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Constatação Óbvia

Rodolfo Pamplona Filho




Quanto mais o tempo passa,
quanto mais velho eu fico,
mais a vida adulta parece ser
aquele treco frustrante e idiota
que te impede de ler HQ's...


Salvador, 28 de julho de 2013.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Biografia Revisionista

Rodolfo Pamplona Filho



A história é uma ficção,
criada para convencer
de que acontecimentos
são compreensíveis
e de que a vida tem
uma ordem e uma direção.
É por isso que os fatos
são reinterpretados
quando valores mudam...
É preciso sempre ter
novas versões justificadoras
de novos (e velhos) preconceitos...



Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

domingo, 1 de novembro de 2015

A Ignorância é um direito?

Rodolfo Pamplona Filho


Eu não quero ir para a escola.
Eu não quero aprender
Eu não quero aprender nada
Eu não quero aprender nada novo
Eu não quero aprender nada de novo




Já sei tudo
Já sei tudo que quero
Já sei tudo que quero saber
Já sei até mais que quero saber
Eu gostava mais das coisas quando não sabia nada sobre elas...

Logo, concluo que
estou sendo lesado;
estou sendo violentado;
estou sendo educado;
estou sendo educado contra minha vontade...

Então, ser ignorante é um direito?
Não sei!
Mas também não quero descobrir...


Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

sábado, 31 de outubro de 2015

Apocalipse 10

Rodolfo Pamplona Filho




Quando o desespero chegar
e tudo mais parece desmoronar,
a resposta está no resgate
da palavra que é projeto,
razão e objetivo final
de decisão existencial...
A solução para
um mundo em convulsão
é a busca incessante
da realização
da noticia alvissareira,
que é o verdadeiro significado
desta própria mensagem
em três "u"'s:
Universal
Urgente e
Útil:
abrangente de céu e mar;
tempestivo como o fôlego no vácuo;
e assimilado para ser compartilhado,
pois, ainda que sob um gosto doce
ao primeiro paladar,
será amargo no estômago,
desagradável no contato
e duro na concreção...
Mas que é a única opção
para quem colocou a mão
na força do arado,
na necessidade do contato
e na concretização da Fé.


Salvador, ouvindo Pastor Afa Neto, no dia dos pais, em 11 de agosto de 2013.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Desculpa Furada (Viva a Cultura de Vitimização!)

Rodolfo Pamplona Filho




Nada do que eu faço é culpa minha!
Toda as minhas influências
e paradigmas comportamentais
ensejaram a internalização
de um gestalt disfuncional!
Sem o devido planejamento,
não há como desenvolver!
Meu comportamento viciado
é fruto de um processo doentio
de codependência forçada!
Preciso urgentemente de
um tratamento holístico integral,
sem internamentos compulsórios,
mas, sim, como resultado
de um diálogo habermasiano
de construção comunicativa
de um consenso democrático
que me permita exercitar,
sem condicionamentos,
a autonomia da vontade...
Sem isso, não há
como responder
por qualquer ato,
pois todo resultado
foi contaminado
pelo desrespeito
da minha individualidade...
Viva a Cultura de Vitimização!


Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...