O objetivo deste blog é divulgar toda a minha produção poética, sem prejuízo de continuar a ser postada também no Portal de Poesia Rodolfo Pamplona Filho (www.rodolfopamplonafilho.blogspot.com).
A diferença é que, lá, são publicados também textos alheios, em uma interação e comunhão poética, enquanto, aqui, serão divulgados somente textos poéticos (em prosa ou verso) de minha autoria, facilitando o conhecimento da minha reflexão...
Espero que gostem da iniciativa...

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Para minha mãe




 

Hoje, fui ver minha mãe...

Há alguns dias, não a via...

Impedimentos não me faltavam

para justificar minha ausência:

viagens, trabalho, estudo,

projetos e compromissos mil...

Mas não podia deixar de ir

no dia que elegeram para

homenagear especificamente

aquelas que nos trazem à luz

(como se todos os dias em que

respiramos já não fossem

uma celebração da maternidade...).

Lá chegando, ela estava deitada,

como há tanto tempo está,

como se permanecer parada

fizesse recuperar o tempo

e a saúde que já se foram...

Encontro-a, beijo-a e a abraço,

como se eu não fizesse isso

sempre que a vejo...

Ela sorri... E me olha...

Mas não pode mais falar

com sua própria voz...

Mas seu olhar me diz tudo

que eu preciso saber,

sem necessidade

do menor balbuciar...

E no encontro dos olhares,

todos os sentimentos

são manifestados

como um turbilhão

que explode no silêncio...

Não resisto...

Sinto vontade de chorar...

Dou uma desculpa

de que vou cuidar da casa

e sigo para a cozinha,

ver o que estava faltando,

e para a sala,

ver e disparar mensagens

para ver se todos estão bem

e tudo está em ordem...

De repente, ela surge,

em pé, apoiada nas cuidadoras,

e vem em minha direção...

Abraçamo-nos,

finalmente na vertical,

e, de repente,

aquele abraço

vira uma dança...

uma valsa tocada

em uma harmonia sem notas,

uma melodia sem som

e um ritmo ditado

pelo bater dos nossos corações...

Giramos juntos,

lentamente,

como não houvesse dor,

tristeza ou doença,

como se o relógio parasse

e o mundo esperasse

o que fossemos fazer...

As cuidadoras parecem estranhar

aquela coreografia muda

e tentam discretamente

colocar uma musica

para acompanhar...

Pouco importa...

O que interessa é o momento,

o hoje e o sentimento...

E nossa dança termina

com ela sentando em meu colo

e, como fazia quando eu era criança,

cocando meu cabelo

e fazendo cafuné...

Não há roteiro,

não há script,

não há mais o que fazer...

senão amar incondicionavelmente...

Verdade...

Enquanto há vida,

há esperança, alegria

e sorrisos inexplicáveis...

Depois, a gente vê depois...

pois o depois é só saudade...



Salvador, 12 de maio de 2013, no dia das mães...


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