Quando em meu peito, romper-se a corrente
Que a alma me prende à dor de viver
Não quero por mim, nem uma lágrima,
Nem um suspiro, nem um sofrer...
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu passamento.
Não quero que um sorriso
Se apague pelo fim do meu triste tormento!
Viver foi peregrinar no deserto,
Procurando achar o que não estava escondido,
viver foi submergir no tédio,
Tentando encontrar o que já estava perdido
Quando se esgotar o meu suspiro,
Não desfolhe por mim sequer uma flor!
Não tornai outro ente matéria inútil.
Sozinho, da morte, deixai-me o torpor!
No meu epitáfio, escrevas:
Foi homem e, pela vida, passou
Como nas horas de um pesadelo
Que só, com a bela senhora, acordou
Descansem meu leito solitário
À sombra de um triste cipreste,
Numa floresta há muito esquecida
Onde não usurpem o que ainda me reste.
Este parece ser meu desejo final
Neste esperado momento de verdade nua.
Eis-me pronto para beijar a bela senhora
E ver como a morte é doce e crua!
(1989)
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