Para
minha mãe
Rodolfo Pamplona Filho
Hoje, fui ver minha mãe...
Há alguns dias, não a via... Impedimentos não me faltavam para justificar minha ausência: viagens, trabalho, estudo, projetos e compromissos mil... Mas não podia deixar de ir no dia que elegeram para homenagear especificamente aquelas que nos trazem à luz (como se todos os dias em que respiramos já não fossem uma celebração da maternidade...). Lá chegando, ela estava deitada, como há tanto tempo está, como se permanecer parada fizesse recuperar o tempo e a saúde que já se foram... Encontro-a, beijo-a e a abraço, como se eu não fizesse isso sempre que a vejo... Ela sorri... E me olha... Mas não pode mais falar com sua própria voz... Mas seu olhar me diz tudo que eu preciso saber, sem necessidade do menor balbuciar... E no encontro dos olhares, todos os sentimentos são manifestados como um turbilhão que explode no silêncio... Não resisto... Sinto vontade de chorar... Dou uma desculpa de que vou cuidar da casa e sigo para a cozinha, ver o que estava faltando, e para a sala, ver e disparar mensagens para ver se todos estão bem e tudo está em ordem... De repente, ela surge, em pé, apoiada nas cuidadoras, e vem em minha direção... Abraçamo-nos, finalmente na vertical, e, de repente, aquele abraço vira uma dança... uma valsa tocada em uma harmonia sem notas, uma melodia sem som e um ritmo ditado pelo bater dos nossos corações... Giramos juntos, lentamente, como não houvesse dor, tristeza ou doença, como se o relógio parasse e o mundo esperasse o que fossemos fazer... As cuidadoras parecem estranhar aquela coreografia muda e tentam discretamente colocar uma musica para acompanhar... Pouco importa... O que interessa é o momento, o hoje e o sentimento... E nossa dança termina com ela sentando em meu colo e, como fazia quando eu era criança, cocando meu cabelo e fazendo cafuné... Não há roteiro, não há script, não há mais o que fazer... senão amar incondicionavelmente... Verdade... Enquanto há vida, há esperança, alegria e sorrisos inexplicáveis... Depois, a gente vê depois... pois o depois é só saudade... |
Salvador, 12 de maio
de 2013, no dia das mães...
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