Magnífico Prof. Manoel Joaquim de Barros, Reitor da Universidade Salvador – UNIFACS
Ilustríssimo Prof. Adroaldo Leão, Coordenador do Curso de Direito,
em nome de quem saúdo todas as demais autoridades presentes e representadas.
Meus alunos, amigos e afilhados.
Quando fui comunicado de que tinha sido eleito patrono da quarta turma do curso de Direito da Universidade Salvador – UNIFACS, não posso negar que fiquei felicíssimo, tomado de um prazeroso sentimento de vaidade.
Não a vaidade pejorativa, que somente pretende obter a auto-louvação em detrimento do resto da humanidade, mas sim um sentimento que, definitivamente, não pode ser considerado demeritório.
Com efeito, somente o fato de ser lembrado, para qualquer professor que ame este sacerdócio, traz a mais evidente satisfação de concluir ter feito diferença na vida do aluno, deixando uma marca incrustada em sua vida acadêmica e na sua memória.
Somente ser lembrado já é, em si, uma grande homenagem, pois o esquecimento ou a apatia é a pior resposta que um professor pode ter.
Honrado com essa distinção – e mais ainda pela possibilidade de expressar essa honra na solenidade, quebrando, mais uma vez, o protocolo da UNIFACS – fiquei a matutar como poderia manifestá-la para vocês.
De fato, até hoje não consigo me enquadrar no arquétipo socialmente construído do pronunciamento escolástico do professor catedrático ou da oração ritualística que se espera de um magistrado.
Moldar-me de forma diferente, por uma convenção social, seria algo tão artificial que é muito pouco provável que tenha sido esse o seu desejo ao me convocar para a tribuna.
Resolvi, então, escrever uma carta!
Não uma carta de amor à turma, ao magistério, à universidade ou, especificamente, que interesse a somente uma ou outra pessoa ou instituição, pois isso eu já expressei em várias outras oportunidades. A boca fala do que o coração está cheio...
E, nesse momento, mais do que o amor, o sentimento mais forte a incomodar é o da saudade...
Saudade do que já vivemos e do que não viveremos mais, saudade do que se passou e até mesmo do que nunca se passará, como se fosse possível viver em realidades alternativas, em que o tempo e o espaço se confundissem, permitindo reviver o passado, reconstruir o presente e repensar o futuro.
Trata-se, portanto, de uma carta de despedida, pois não há momento maior para o brilho da saudade do que no lamento da partida.
E a quem dirigir a carta? Afinal, toda missiva tem de ter um destinatário!
A resposta mais óbvia seria para toda a turma.
Mas será que isso seria possível?
Por que não? – perguntaria um ouvinte menos avisado!
Somente pode responder quem os conhece o suficiente – e, definitivamente, eu posso assumir em público tal conhecimento – para compreender que vocês não são uma única turma, mas sim duas turmas completamente distintas, com seus pontos de interseção e suas divergências figadais, de conciliação absolutamente incompatível. Em verdade, podemos dizer que vocês são mais do que duas turmas diferentes, e sim vários grupos que interagem permanentemente, chocando-se quando invadem as áreas de interesse comum.
E isso é um defeito?
De forma alguma! Trata-se da mais evidente prova da sua própria humanidade, com todas as suas qualidades e impurezas, suas virtudes e idiossincrasias, seus dons maravilhosos e seus mais infames pecados.
E tolos são aqueles que se deixam enganar pela artificialidade das uniformizações acríticas e forçadas, iludindo-se em um parnasianismo demodée, sem perceber que a beleza da condição humana está justamente nas nossas imperfeições, nas diferenças que nos permitem encontrar no outro ou o que nos identifica, ou o que nos complementa.
Foi pensando assim, tentando construir uma manifestação diferente, que me lembrei da primeira turma do Curso de Direito da UNIFACS, em que o patrono, o insuperável Prof. Calmon de Passos, mestre de todos nós, resolveu fazer seu discurso, dirigindo-o a um dos formandos, o excelente aluno Ivan Rabanillo, que, para ele, simbolizava a excelência daquela turma.
A idéia é ótima, mas ela encontra obstáculo no meu primeiro pensamento: a diversidade de posturas dentro do grupo de formandos faria soar artificial e – por que não dizer? – injusta a escolha de uma pessoa como símbolo da turma, pois sempre haveria um bom número de pessoas que não se identificariam necessariamente com esta pessoa.
Então, se queria eu fazer uma carta, falando de saudade e escolhendo um destinatário só, que não seria um símbolo da turma, mas sim um confidente privilegiado do que eu sinto pela turma, qual é o critério que eu deveria usar?
O critério de suas próprias individualidades, naquilo que, como um observador próximo, poderia eu destacar como elemento de identificação comigo mesmo, trazendo, talvez, um testemunho do meu afeto e do meu profundo conhecimento da turma.
Vocês adivinham quem foi a primeira pessoa em que pensei?
Comecei pensando em meu amigo Habib (Habiborba, Lacraia ou outro apelido que se possa lembrar ou falar em público). Nele, eu destaco a integridade. Conheci Habib antes de ser seu professor, como membro do IEJ, em que apoiava o trabalho da sempre presente Ana Clara, e sempre tive boa impressão. Essa impressão se tornou admiração com um singelo fato: tendo eu me equivocado para mais na contagem de pontos de uma prova sua, ele me procurou para que eu retificasse o meu erro, outorgando-lhe a nota merecida, pelos estritos critérios objetivos de correção. Na época, cheguei a comentar com “Conde Orélio” a minha satisfação, pois passamos a viver em uma sociedade em que se faz necessário louvar o que deveria ser requisito de todo cidadão: a honestidade. Habibão, saiba que tenho muito orgulho de você e receba meu abraço, com a certeza de seu sucesso e felicidade, principalmente ao lado da minha meiga Laís (afinal de contas, mandar e-mail na conta da namorada já é indício de união estável...).
E nessa brincadeira, acabei mencionando outro personagem que poderia ser destinatário dessa carta. Não somente o Conde Aurélio, mas também Bóris Anaconda Marlisson; Vitão, o terrível; Miguelito, o monstro; Correia, o “morcego hacker”; Allan “Bilão” e tantos outros membros da mais poderosa sociedade secreta do curso, os indescritíveis “mucegos” (com “u”), confraria da qual me tornei membro honorário e bat-patrono...
Nesse grupo, não posso deixar de mencionar a doce, insuperável e inesquecível figura de Pit Bull (embora irmão de Fernanda, minha aluna de anos anteriores, somente fui saber que seu nome era Vitor quando fiz a chamada do quarto ano!) Este é uma peça que deixou sua marca, literalmente, nas paredes e teto da faculdade.
Pensei em direcionar a carta para um “vulcão”, que é Gabriela (que, nas suas próprias palavras, nunca morrerá com problema de garganta ou de coração, pois coloca tudo para fora, sem mesmo pensar direito nas palavras que usa). Vê-la junto com Carlão me traz uma sensação de que, brevemente, teremos um novo casamento a apadrinhar...
Pensei na espontaneidade de Juliana; no dócil nervosismo de Raquel e Lise; na seriedade acadêmica de Adriana Abreu, Flávia Smarcevsky e Valmara; na meiguice de Fernandinha, sempre secundada por Lula, que é seu procurador tácito em qualquer votação; para a impressionante capacidade de "complicar o que é fácil" do meu futuro colega Jongalves (serás Juiz do Trabalho, mais dia ou menos dia!); na incrível capacidade de concentração em uma conversa de Leila e Milena; e – pasmem! – pensei até mesmo em dedicá-la a Elisa, como uma homenagem por ter vindo à solenidade, mesmo não tendo nenhuma aula de penal por aqui...
Considerei a possibilidade de mencionar o meu carinho pela minha irmãzona(zinha) em Cristo, Mônica (alguém do tamanho dela vale o neologismo!) e Taiana; no meu tricô com minha comadre Conceição, a mais profícua representante de uma turma muito fértil (se contarmos com Milene, Aline, Cabana e Valmara), em que todo ano ganhávamos um novo sobrinho; e até mesmo o heterodoxo acompanhamento, de gosto duvidoso, do paredão de Vaz nas suas estranhas peripécias no Big Brother Bahia, o que gerou até mesmo uma pequena confusão com nosso querido colega Salomão Resedá, que chegou a pensar que eu estivesse participando daquele certame...
Pensei em falar do “enjoeeeiiiiiiiiiiiiii”, de Laise, a prima da loira do Tchan; o “quem souber morre, mucegão!!!”, de Vitão; o “arrasada”, de Taty Blandy; e tantas outras pérolas do dialeto dessa turma, única que consegue entender o significado de sair coletivamente da “Lista Negra do Pamplona”, aos 48 minutos do segundo tempo, em um gol de mão, de impedimento. Não é, Larissa, Adriana Santos, Elisa (sempre Elisa!), João Alves, Vaz, Olavac, Leila, Valmara, Aline Gran e Sabrina (a “Sassá Mucega”)?
Outros sérios candidatos a destinatários desta carta seriam, por certo, o Comandante Lantyer, cuja afinidade começa em casa por ser filho de um dos juízes mais admirados na condução de audiências trabalhistas em todos os tempos, espelho para novas gerações, ou a minha amada amiga Taty “Tudo beleza?” Granja. Ambos, por terem sido meus orientandos, únicos na minha história de vida do curso para quem outorguei a nota 10,0 (dez) em uma defesa de monografia, e participado das duas turmas em épocas diferentes, seriam, por certo, sujeitos com elementos importantes de integração para representá-los.
Taty Blza, por certo, mereceria um capítulo à parte, por ter se tornado muito mais do que uma excelente orientanda, constituindo-se em uma metafórica relação de guru e discípula. A ela, dedico todo o meu orgulho quase paternal pelos louros recebidos nos Prêmios Luiz Tarquínio e Coqueijo Costa, além da bolsa na Universidade de Salamanca, em que, mesmo distantes, mantivemos contato permanente, na leitura do seu diário de bordo.
Pensei também em minhas “meninas super-poderosas” da turma da manhã, Florzinha, Lindinha e Docinho, digo, Carla, Renata e Gaby Mendes (vulga “Alice Portugal”). Quanto trabalho me deram, caçando-as na faculdade e na Internet? Mas o trabalho valeu a pena, não?
Pensei em Bruno Malaguti e sua postura íntegra, de acreditar que se pode mudar o mundo, mudando a si próprio, no entusiasmo por poder fazer a sua parte no voluntariado por uma nova sociedade. Tenho muito orgulho de você, amigo, e desejo, de coração, que este amor pela humanidade jamais pereça, mas sim se torne uma frondosa árvore, a gerar novos frutos. Lembre-se que é no nosso testemunho, no nosso exemplo, que podemos contagiar a sociedade para uma nova postura ética.
Pensei em Tiago Quadros, crítico, mordaz, talentosíssimo, tanto na palavra, quanto na sensibilidade musical.
Pensei em Ilton Reis, que eu perturbei até dizer chega como Presidente do DA, mas que reconheço ter se mostrado um indivíduo que cumpre a sua palavra, tendo sido um grande aliado e importante parceiro no trabalho conjunto.
Pensei no amor que vi despertar em André e Tâmara, em Júlia, em Juliana, e em tantos outros que iniciaram e terminaram relacionamentos, mas que eu continuo abençoando, como a desejar que tenham a mesma felicidade que tive em meu casamento. Afinal de contas, quem teve a sorte de um amor tranqüilo não pode deixar de achar que amar pode dar certo...
Poderia eu ficar a noite toda, falando pelo menos uma característica de cada um de vocês. Todavia, como um mal que parece abater a todo profissional do Direito – que escreve um texto de 40 laudas e o chama de sumário – estou falando há um tempo enorme e ainda não escolhi o destinatário de minha carta.
É preciso escolher alguém, porém não mais na falsa idéia de encontrar alguém que possa representar a enorme quantidade de facetas desta turma multifacetada, mas sim alguém que, para mim, tenha criado um vínculo tal que, mesmo sendo diferente de vários outros componentes do grupo, lembre, em mim, a convivência agradável que tive com TODOS vocês.
Além disso, preciso individualizar logo alguém que represente, para mim, tanto aqueles de que eu já falei, quanto os que eu ainda posso falar e os que eu não vou poder falar, embora quisesse, pelo fato do cerimonial não me deixar utilizar o tempo que vocês merecem e que gostaria de dedicar...
Se o critério para a escolha não é o de uma falsa simbolização da turma, mas sim o de identificação pessoal de remetente e destinatário, o de alguém que transcenda o afeto que tenho pelos formandos para, pelo convívio e relação pessoal, tornar-se alguém por quem nutro um amor paternal ou, no mínimo, de um irmão mais velho, já não tenho mais dúvidas.
Vou começar, finalmente, o meu discurso.
Se fosse intitulá-lo, ele se chamaria “Uma Carta para Helena”.
Salvador, 27 de fevereiro de 2004
(terminei de escrever esta carta hoje mesmo)
Minha querida Malukelena
Para falar a verdade, embora esteja escrevendo esta carta horas antes da solenidade, tive a primeira idéia de escrevê-la já há algum tempo, mais precisamente no dia 04 de outubro de 2003, quando você me passou um e-mail, arrasada, dizendo que estava triste porque não iria poder me entregar a placa como patrono da turma.
Nesse dia, inclusive, tanto Taty Blza, esta grande amiga que o trabalho de orientação nos proporcionou, quanto meu amado afilhado Álvaro Maia (aluno de ontem e de hoje, seu namorado e, se Deus quiser, com minha benção, seu futuro marido) me ligaram, dizendo que estavam te consolando, dada o seu estado de decepção.
Disse eu, porém, que não havia motivo para tanta tristeza, pois o eleito, pela maioria esmagadora dos votos, era também uma das figuras mais carismáticas do curso e, em especial, da turma da noite, também destinatário do meu mais profundo carinho, não sendo razoável fazer acepção de pessoas quando se é homenageado.
Fiquei, porém, com uma vontade de lhe dar um destaque, embora você já tenha me presentado com algo muito melhor do que uma bolsa das meninas superpoderosas para minha filha (o que, sem dúvida, é uma excelente lembrança!), algo realmente infinitamente melhor do que isso: a sua amizade.
Somos dois “bicho-grilos”! Não no sentido social da palavra, indicador de um comportamento alternativo, mas sim numa concepção recontextualizada. Numa sociedade fast food, em que tudo exige uma resposta rápida, quase sem reflexão, somos dois apaixonados pela leitura, compulsivos mesmo, com um estranho desejo de escrever e colocar para fora, no papel, tudo aquilo que sentimos e percebemos à nossa volta.
Meu maior prêmio, como seu orientador da monografia de final de curso, foi ver você conquistar a sua própria confiança para botar para fora tudo que poderia processar, o que, definitivamente, não é algo fácil.
Permitindo-me abrir a nossa intimidade, deixe-me ler um trecho de um dos milhares de seus e-mail´s que trocamos durante o período de orientação.
“Queria lhe dizer que o que foi mais importante para mim nessa nossa tripla orientação (já incluo aí o Calmon de Passos!!) é a confiança que vc deposita em mim.
Sempre tive verdadeira paixão por escrever, tanta, que n consegui esperar que me ensinassem e aprendi a fazer isso sozinha!!
Sempre soube que poderia escolher qualquer profissão, porque só seria feliz se pudesse escrever sobre ela.
Mas desenvolvi um medo muito grande de escrever, por conta das pessoas a minha volta. As pessoas da minha idade achavam que eu era diferente, porque as pessoas comentavam como eu lia, e escrevia, diferente das crianças da minha idade e eu n curtia isso... Talvez eu tivesse escrito muitas coisas lindas, mas n conseguia fazer pois tinha medo das pessoas acharem que eu era diferente.
Depois, com o tempo, eu mesma já não conseguia escrever porque ficava com medo de fazer pior do que antes, de não corresponder a expectativa (minha e dos outros).
Estou te dizendo tudo isso para vc saber que me ajudou, sim, e muito, só dizendo que o que eu escrevi, lá naquele primeiro projeto, estava muito bom. Pq aquilo foi escrito sem consultas, sem revisão, foi só leitura processada na minha cabeça. Só isso já foi tão importante, que você não precisaria ler mais nada dali para frente, porque vc me fez acreditar que eu posso, e essa é a minha maior deficiência, a sensação que sinto, antes de sentar e escrever, de que n vou conseguir.”
Só que eu li tudo o mais que você escreveu e confesso que fiquei muito satisfeito do ponto de vista intelectual com o que encontrei.
Como registrei no convite de vocês, a iniciação científica significa muito mais do que desenvolver artigos doutrinários ou redigir uma monografia: é a própria essência e finalidade do estudo acadêmico, em que, mais do que se obter respostas, aprende-se a questionar; mais do que saciar a fome, aprende-se a plantar; mais do que conhecer previamente de tudo, aprende-se a pensar e a saber onde encontrar o que se precisa... é mais do que conceber um sonho, é aprender a construir uma realidade...
E tenho plena convicção que não estou sendo, como você me considera, over ou almodovariano...
A forma como me dirijo a você, invocando uma evidentemente inexistente maluquice – e que você já me disse que não gosta, justamente pela má interpretação que outros podem ter de minhas palavras - é mais do que um carinho heterodoxo, e sim uma realidade metafórica adequada, pois poucos orientandos conseguiram satisfazer e superar as minhas loucuras dogmáticas, onde quando mais eu exigia, mais ela me proporcionava de construção de raciocínio...
Como aprendi na primeira carta que Rainer Maria Rilke escreveu para seu discípulo à distância, Franz Xaver Kappus, “... Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem – usando da licença que me deu de aconselhá-lo -, peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar – ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto, acima de tudo, pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: “Sou mesmo forçado a escrever?”. Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples “sou”, então construa a sua vida de acordo com essa necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão” (Carta a um Jovem Poeta, São Paulo, Globo, 2001, p.26/27)
Como escrevi certa vez, na minha adolescência, em poema já compartilhado com a turma (porque não podemos ter medo de compartilhar o que escrevemos!):
“Um dia, eu quis voar,
mas não tinha asas de vôo!
Um dia, eu quis amar,
mas não sabia o que era o amor!
Um dia, eu quis matar,
mas não sabia o que era a dor!
Fui forçado e sou forçado
a fazer algo que não sei
que não vi
que não há
Vocação que não existe, nem existirá
Quando encontrei minha vocação?
Achei no dia que tomei coragem
de encarar o espelho
de mergulhar na grande imensidão do nada
(no fundo do meu ser)
Então, qual é a minha vocação?
É ser... EU mesmo.
Encontrar-se! Dedicar tempo ao que nos faz feliz!
Por que temos direito de ser felizes...
E a concepção de que “é melhor qualidade do que quantidade” encerra, no campo das relações sociais, apenas uma meia verdade.
É preciso investir quantidade de tempo nas pessoas, estar presente e externando, por gestos e palavras, todo o amor que se nutre, pois, independente do credo e convicção filosófica, não se tem, nesta vida, a mesma chance ou oportunidade de manifestar os sentimentos.
Como diria Guilherme Arantes, “meu momento é agora, meu caminho é feliz, se há uma crise lá fora não foi eu que fiz”.
E não me venham me falar de falta de tempo.
Somente quem é verdadeiramente ocupado encontra tempo para fazer alguma coisa.
Tempo é prioridade; é saber abrir mão de muitas coisas importantes que realmente se quer, em função de outras tão importantes quanto, que se quer ainda mais...
Mesmo que isso signifique desenvolver uma fama – justificada! - de enrolado para ir nas festas de vocês, somente pela visceral necessidade de aproveitar todo o tempo possível com minha esposa e minha filha...
Como dito no início, esta é uma carta de SAUDADE...
E, Helena, me despeço de você, com saudade, que é extensiva a todos os outros formandos.
Só que, como falo de saudade, me permito, como em toda carta ou em todo e-mail, um P.S.
Uma mensagem final para compartilhar a saudade, trazendo outras destinatárias... Marina, Priscila, alguém está faltando aqui hoje...
Nós sabemos, de verdade, o que é saudade...
A saudade é muito mais do que nostalgia e muito menos que obsessão;
É uma ferida aberta, que não estanca, bem no meio do coração,
Mas que a gente se acostuma com ela a ponto de achar cicatrizada,
Mas que rompe com toda a força com a palavra ou a lembrança adequada...
Não é assim?
Despeço-me, pois, com a certeza de que aprendi muito mais do que pude ensinar.
Aprendi sinceramente a gostar de cada um de vocês. Mais do que isso, aprendi a AMAR muitos de vocês, com todas as qualidades e defeitos, seus e meus, reveladores da nossa condição humana...
Nessa mensagem final, espero, de verdade, que eu deixe mais saudade do que alívio, desejando, de coração, que cada momento compartilhado seja muito mais do que uma carta de saudade, mas sim um testemunho vivo de meu carinho, sinceridade e amizade por cada um de vocês.
Como diria o Mestre Peninha, na canção imortalizada por Caetano: "Mas não tem revolta não, eu só quero que você se encontre / Ter saudade até que é bom / É melhor que caminhar vazio / A esperança é um Dom que eu tenho em mim, eu tenho sim / Não tem desespero não, você me ensinou milhões de coisas / Tenho um sorriso em minhas mãos, amanhã será um novo dia / Certamente eu vou ser mais feliz "
Sejam felizes!!!
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