Vou explicar uma vez.
Veja se dá para entender.
O Brasil está em uma crise política.
Essa crise já se anunciava desde a eleição de 2014, em que houve uma divisão do país, tendo o resultado sido por cerca de 2% de diferença.
Desde então, a oposição tem investido na política de "quanto pior, melhor!".
Ao mesmo tempo, a polícia federal e o ministério público federal têm feito um fantástico trabalho de investigação das entranhas do poder, denunciando o tráfico de influência, corrupção e relações incestuosas da política com o empresariado, expondo as vísceras de um sistema que foi escrito tradicionalmente na base do "caixa 2" e dos "agrados" e "favores".
Como se não bastasse isso, o governo federal (ai, sim, leia-se o PT e aliados, históricos ou de conveniência, como o PMDB) tem se mostrado profundamente incompetente para gerenciar a situação econômica e política.
Assim, chega-se à seguinte situação:
A) impeachment é processo político, por crime de responsabilidade, não recall por incompetência gerencial;
B) toda corrupção deve ser denunciada e combatida, não se limitando a um partido ou a uma figura;
C) o clima de bipolaridade apenas estimula encarar a situação como um jogo, em que se aponta, a todo tempo, alguma "prova definitiva" da culpa, quando o julgamento jurídico não é feito pela opinião pública, mas, sim, pelo judiciário;
D) o julgamento político é feito nas urnas, não se esgotando no eventual impeachment (que pode vir, sim, e não será golpe, se feito dentro das regras constitucionais);
E) #naovaitergolpe é uma frase de efeito, que pode ser uma afirmação contra os lunáticos que sonham com um golpe militar ou querem acabar com as garantias individuais, mas também pode ser manipulado como um chavão para manter o PT no poder (o que tem se tornado insustentável).
Por isso, soa imbecil e manipulador ouvir o discurso
preconceituoso contra o PT, quando não acompanhado de um juízo efetivamente
crítico.
Discurso contra a corrupção, sim!
Discurso a favor das garantias processuais e constitucionais, sempre!
E esses discursos não são incompatíveis.
O importante é apurar tudo e punir quem deve ser punido.
O processo penal não é feito para punir, mas, sim, para apurar, inclusive absolvendo quem for acusado levianamente.
Quando se coloca a questão em termos de nós e eles, em um
"fla-flu jurídico", fecham-se os olhos para as verdadeiras questões
importantes, servindo-se de massa de manobra para as disputas intestinas de
poder.
Rodolfo Pamplona Filho
27 de março de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário