O objetivo deste blog é divulgar toda a minha produção poética, sem prejuízo de continuar a ser postada também no Portal de Poesia Rodolfo Pamplona Filho (www.rodolfopamplonafilho.blogspot.com).
A diferença é que, lá, são publicados também textos alheios, em uma interação e comunhão poética, enquanto, aqui, serão divulgados somente textos poéticos (em prosa ou verso) de minha autoria, facilitando o conhecimento da minha reflexão...
Espero que gostem da iniciativa...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Provas



 

As provas são inúteis, 

a menos que provem 

o que as pessoas  

querem acreditar  

 

As provas são desnecessárias, 

se quem julga  

já se convenceu 

sem precisar delas 

 

As provas são bobagem, 

quando já se sabe  

o teor e o sentido  

da condenação  

 

As provas não valem nada, 

se o que basta  

para quem acusa 

é a sua convicção. 

 

Salvador, 8 de agosto de 2021.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Oferenda Devolvida

 



 

 

 

Quem se acha muito 

pode não valer nada  

para quem se agrada  

(ou se tenta agradar…) 

 

Quem pensa ser o centro  

pode nem ter o intento 

de ser reconhecida  

como a joia mais querida 

 

mas, no juízo natural 

da senhora das águas, 

está a questão devida: 

 

o que é você, afinal: 

um presente acolhido  

ou uma oferenda devolvida? 

 

Salvador, 20 de fevereiro de 2021 

sábado, 29 de janeiro de 2022

O Corpo Cobra

 


O corpo cobra 

A mente chora 

A alma clama  

A vida reclama  

O mundo exclui 

A dor machuca 

A força esvai 

A morte toma conta 

 

Salvador, 15 de junho de 2021 


sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Mulheres de Fibra?



 

Mulan  

Diadorim 

Maria Quitéria  

Joana D’Arc  

Por que uma mulher 

precisa virar um homem 

para ser valorizada? 

 

Salvador, 15 de junho de 2021  

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Liberdade Religiosa

 




 

Crença  

Fé 

Liberdade  

Convicção 

Certeza no que não se vê, 

mas que habita seu coração  

A relação  

com o espiritual  

pode ser individual  

ou coletivamente vivida, 

mas reflete a eterna busca 

do sentido do universo, 

de onde se vem  

e para onde se vai  

e pelo que se vale a pena viver… 

 

Salvador, 09 de janeiro de 2022.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Eu sou muito mais

  




Eu sou muito mais  

do que as coisas ruins  

que acontecem comigo 

 

Eu não posso  

simplesmente ficar  

lamentando  

tudo que sofro ou sofri 

 

Eu não posso  

somente chorar  

pelo que queria fazer  

e nunca vivi 

 

Eu não devo esperar  

as coisas ficarem  

menos ruins  

para ser feliz 

 

Se há uma única chance  

de viver ou sobreviver,  

já é mais do que zero, 

já é mais do que desistir… 

 

Salvador, 15 de junho de 2021 

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Encontro de Quereres

  




 

Encontro de vontades, 

de profundas necessidades, 

de desejos e de quereres, 

em que se dá mais 

do que se recebe; 

em que se vive mais 

do que se espera; 

em que se realiza mais 

do que se sonha; 

em que se reverencia o destino  

mais do que se quer mudá-lo; 

em que se acredita ser possível  

encontrar o que sempre se quis. 

 

Salvador, 23 de fevereiro de 2021.  

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Consciência

 


 


 

A consciência  

é a primeira juíza  

de nossos atos  

A consciência avalia, 

pondera, condena 

e executa firmemente  

com mais eficiência  

do que qualquer  

estrutura judiciária  

A consciência é  

inefável, implacável  

é inevitável. 

Quem não tem consciência  

se livra de um fardo 

e de um perseguidor 

para a vida inteira, 

pois a consciência culpada  

não precisa de acusadores: 

ela se basta para quem a tem. 

 

Salvador, 24 de agosto de 2021, lendo X-Men.

domingo, 23 de janeiro de 2022

Boa Fé

  

Boa Fé 

 




Bona Fide 

Boa Fé  

Honestidade  

Conhecimento 

Consciência dos fatos  

ou do que deveria ocorrer. 

Observação do que  

ordinariamente acontece  

ou que normalmente se espera 

no meio em que se vive. 

Homem médio  

Reasonable man  

Bonus paeter familiae 

A verdadeira pessoa de bem 

 

Salvador, 09 de janeiro de 2022. 

sábado, 22 de janeiro de 2022

Saudade de Casa






Por vezes, tenho vontade de chorar...

Sei o motivo, mas não consigo controlar

Há um vácuo que preenche o que era completo

Uma carência de beijo, dengo e afeto


Não sei o que é pior: a distância ou a despedida;

O romper do contato no momento da partida

Um olhar para trás, um abraço apertado,

um aceno tristonho, um olhar desolado...


Como uma dor machuca tanto sem ferir?

Como dominar o que posso apenas sentir?

A paz é arrancada desde a raiz

Uma marca viva que não vira cicatriz...


Pense duas vezes antes de reclamar

Dos problemas da vida, da rotina do lar...

Há tristeza que ninguém sabe como se mede

Só se valoriza o que se tem quando se perde


A lágrima vem solta e quente

Quem negar isso apenas mente

mas faz bem, porque, como um rio

leva o fel para um outro lado vazio....


A cada alvorecer, há uma nova esperança...

que surge inocente, como sorriso de criança,

mudando planos e rumos, batendo asa,

tudo por causa da saudade de casa...


Ciudad Real, 09 de setembro de 2008

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Antirracismo

  



 

Repulsa 

ao estado de coisas  

Irresignação  

Inconformidade 

Rejeição  

Combatividade  

Marcar espaço  

Não ficar calado 

Não baixar a cabeça  

Não deixar que aconteça  

 

Inconformar-se 

Mover-se 

Fazer a sua parte 

para que o mundo  

não fique o mesmo. 

Não chorar sozinho, 

mas entender possível  

também encontrar  

braços amigos  

para combater o racismo 

e o privilégio da branquitude, 

pois a luta não é  

de uma pessoa, 

de um grupo, 

de uma cor 

ou de uma raça, 

 

 

mas, sim, de preservação  

e dignidade  

daquilo que todos e todas, 

em essência, somos: 

seres humanos! 

 

Salvador, 09 de janeiro de 2022. 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

O Dia






É hoje o dia!

E o sangue dá nova pulsada

como um atleta de corrida...

Será que, antes da chegada,

já será despedida?


É hoje o dia!

E a ansiedade

toma todo o corpo,

como se a vontade

aproximasse o porto...


É hoje o dia!

Mas que desespero!

A cada minuto de espera,

tenho um pesadelo

de que serei esquecido na terra...


É hoje o dia!

Tenho a esperança

de que tudo vai dar certo

toda vez que vem a lembrança

de que o momento está perto!


É hoje o dia!

Recebi a confirmação

de que não houve desistência,

o que faz meu coração

renovar sua resistência!


É hoje o dia!

É agora a hora!

Por isso, sem demora,

farei o que sempre quis:

apenas ser feliz.


Salvador, 26 de agosto de 2011.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Meu Bem

 







Meu Bem,

não me leve a mal

se eu sair por aí a dizer

que um outro alguém

passa agora a habitar em você,

como se a história

pudesse ter um novo porquê.


Errei

ao imaginar que tudo

poderia ser sempre igual

e que as pessoas não mudam

no caminho, afinal,

já que eu mesmo sei

que muito mudei...


Sinto

que o meu desejo

é maior do que o meu eu

que tudo que deu

certo por certo valeu

mas agora é hora

de cantar outra canção.


Sempre

vou guardar o que vivi

na mente e no peito,

mas o que se quebra

não tem mais jeito:

o mundo segue em frente

com um novo refrão.


Salvador-Recife, 16 de janeiro de 2018.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Maria da Penha

 






“ Maria da Penha

   não é pedido de pena,

   mas guerra declarada

   a quem tira a paz”


Recife, 17 de janeiro de 2018.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

A dor que não pode mais calar







A mão que abraçava

era a que ameaçava,

como se fosse possível

aceitar o sacrifício

em nome do amor.


A boca que beijava

era a mesma que ofendia,

como se as palavras

não machucassem tanto

como a força de um soco.


As marcas no espelho

eram escondidas com maquiagem,

mas não apagavam a tatuagem

que ficou impressa

no fundo da alma.


Há uma dor

que não pode mais calar.

Há uma conduta

que não pode se repetir

Há uma vida

que tem de ser vivida

Há um mundo

que não pode ser mais invisível.


Salvador, 09 de janeiro de 2018.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Envelheci

 



Cheguei no ponto

em que se lamentam as novidades,

em que se chora de saudades,

ao qual nunca se está pronto.


Percebo agora

que o tempo passou rápido,

que o corpo já está flácido,

que a vida está lá fora


Começo a falar

como eram as coisas em meu tempo,

que não é mais o momento

de poder aproveitar


Sinto falta

de um sonho encantado,

da energia do passado,

da alegria fora de pauta.


No mar de Miami, 30 de dezembro de 2017.

sábado, 15 de janeiro de 2022

Que o mar leve embora...








Que o mar leve embora...

todo mal

Toda tristeza

Toda frustração


Que o mar leve embora...

todo o sal

toda avareza

Toda má sensação


Que o mar leve embora...

Toda mágoa

Toda decepção

Toda dor do coração


Que o mar leve embora...

todo sentimento ruim

que o mas só não leve

você para longe de mim!


No mar de Miami, 31 de dezembro de 2017.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Filhas crescem






O bebê que vi nascer

e carreguei no colo

desabrochou com a primavera

de um tempo que não para...

E se viu menina...

E se viu moça...

E se viu mulher...

E se viu mãe...

Mãe de meu neto...

Retomando o ciclo,

carregando o bastão

e redescobrindo a gênese,

que nunca terminará...



Rio de Janeiro, noite de 20 de setembro de 2013, refletindo sobre o tema e uma musica de John Mayer no Rock in Rio.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Direito Skinhead




Princípio da Truculência Máxima:

In dubio, pau no réu..

Tal qual em “O Pequeno Príncipe”,

você se torna eternamente responsável

pelas empresas que cria...

Afinal de contas,

o processo judicial não pode

ter sensação de coito interrompido...


Quebra de sigilo fiscal,

bancário, telefônico e pessoal:

tudo isso é fichinha

para o que se está

disposto a fazer,

para, em seu entender,

cumprir o seu dever...


Bloquear suas contas,

restringir o seu crédito,

mandar prendê-lo,

se deixassem...

Não há limites

para a sede de justiça,

ainda que seja para beber

todo o seu sangue e seu suor...


Quando o Direito

não é respeitado,

tanto na vida,

quanto no processo...


Quando o Direito

parece ser apenas

um conto de fadas

ou uma história de Carochinha...


Quando o Direito

reconhece que não há

limites para a criatividade humana

quando se quer manobrar para não honrar,

fugir ou fraudar direitos...


Quando o Direito

definitivamente

precisa ser reinventado

para ser efetivado,

não há mais salvação:

É o tempo e lugar

do Direito Skinhead!


Salvador, 04 de setembro de 2010, estressado em um sábado...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Meretrizes da Zona Sul (extended version)

 





São como rosas,

cheias de espinhos;

são como pedras,

mudando caminhos;

anjos das alcovas, com lábios de mel...

vidas amargas, no mais puro fel...

Ela são

Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!

Pobres mulheres!

Meretrizes da Zona Sul


Corpos maculados,

com almas tão puras

Feras escondidas

em doces criaturas.

Preferem a dor do que a solidão,

vendendo a si próprias, em busca do pão.

Ela são

Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!

Pobres mulheres!

Meretrizes da Zona Sul


Deusas pagãs

Senhoras da Vida

Fêmeas amadas

Temidas, feridas

São bichos selvagens em jaula de pedra

Crianças perdidas no meio da selva

Ela são

Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!

Pobres mulheres!

Meretrizes da Zona Sul


“É melhor ser meretriz do que ser ladrão” (será mesmo?)

“Vendo meu corpo, mas não vendo minha alma!” (será mesmo?)


Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho

(2004)

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Gratidão

 




Gratidão não se exige,

não se pede, nem se espera...

É presente de um coração puro,

que não vê outra forma de agir,

na memória da marca do passado

e do alívio do auxílio no desespero...


Por isso, a ingratidão machuca

como punhaladas nas costas,

como um tapa no rosto,

como uma dor fatal no peito...


O ingrato merece mais do que repúdio:

é pena de morte no coração,

que se fecha em uma ferida purulenta,

cujos bálsamos somente são

o ostracismo ou a ressurreição do perdão...


Reconhecer-se grato é o exercício da verdadeira humildade,

que é saber que, sozinho, não se consegue nada,

pois conquistas isoladas são vitórias de Pirro,

em que obter o resultado não significa necessariamente desfrutá-lo...


Gratidão é a resposta sincera

que o afeto exige por coerência!

É a marca que renova a esperança,

que não é a última que morre, posto imortal,

mas, sim, a certeza de que

ainda se pode ter fé na humanidade


Maceió, 03 de setembro de 2010

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Amor em Fases






Apaixonei-me pela ninfeta de 14

Conheci a jovem de 34

Entreguei-me à mulher de 54

Envelheci feliz com a senhora de 74

Amei-a intensamente em todas as suas fases...


San Francisco, 30 de setembro de 2010.


domingo, 9 de janeiro de 2022

O Absurdo Nosso de Cada Dia

 



A cada dia que passe,

entendo menos o meio que vivo,

em que se precisa explicitar o óbvio,

como se fosse vital advertir do evidente.


Vejo placas que não compreendo:

Proibido pegar carona em ônibus...

Fale com o motorista só o necessário...

Não jogue lixo nas ruas...

Dê descarga após usar o sanitário...


Vejo expressões que não entendo:

Hora extra habitual...

Opção obrigatória...

Demais como coisa boa...

Monstro como alguém do bem...


Vejo tratamentos que não entendo:

Tio sem parentesco...

Mestre sem Mestrado...

Doutor sem Doutorado...

na verdade, sem um curso sequer...


Pedir desculpas por qualquer coisa...

Ultrapassar o velho sinal vermelho de Caetano...

Insistir quando já se repetiu o não...

É difícil pensar em alemão,

pois não há limites para a idiotice coletiva

que não cansa de manter viva

a esperança de, um dia, surpreender...


Salvador, 08 de setembro de 2010, pensando em alemão...

sábado, 8 de janeiro de 2022

Morrer é Doce!

 


Quando em meu peito, romper-se a corrente

Que a alma me prende à dor de viver

Não quero por mim, nem uma lágrima,

Nem um suspiro, nem um sofrer...

Não quero que uma nota de alegria

Se cale por meu passamento.

Não quero que um sorriso

Se apague pelo fim do meu triste tormento!


Viver foi peregrinar no deserto,

Procurando achar o que não estava escondido,

viver foi submergir no tédio,

Tentando encontrar o que já estava perdido

Quando se esgotar o meu suspiro,

Não desfolhe por mim sequer uma flor!

Não tornai outro ente matéria inútil.

Sozinho, da morte, deixai-me o torpor!


No meu epitáfio, escrevas:

Foi homem e, pela vida, passou

Como nas horas de um pesadelo

Que só, com a bela senhora, acordou


Descansem meu leito solitário

À sombra de um triste cipreste,

Numa floresta há muito esquecida

Onde não usurpem o que ainda me reste.

Este parece ser meu desejo final

Neste esperado momento de verdade nua.

Eis-me pronto para beijar a bela senhora

E ver como a morte é doce e crua!

(1989)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Uniforme

   

 

  


 

 

 

  

 

 

Um uniforme  

pode ajudar  

a levantar a moral  

de quem pouco tem. 

É como os sapatos, 

para Duque de Caxias, 

ou a roupa da escola, 

para o primeiro dia. 

Mas também pode ser 

o fim da individualidade, 

o réquiem da criatividade, 

a morte da liberdade. 

Afinal, como quase tudo, 

não há bondade ou maldade 

intrínseca a um objeto: 

há o uso e a finalidade  

com que se planeja  

elevar ou rebaixar, 

promover ou reduzir, 

crescer ou diminuir, 

vencer ou sucumbir… 

 

Salvador, 6 de fevereiro de 2021. 

A Banalização da Morte




A TV divulga, a rádio anuncia,

o jornal comunica

o saldo das mortes do final de semana...

o trânsito, o acidente doméstico

ou a costumeira e pontual queima de arquivo...


Normal...


Ouvimos impassíveis,

tomando o café nosso de cada dia,

no meio das notícias políticas

ou da alegria ou tristeza com

o resultado do jogo do nosso time...


Normal...


Não há espaço para indignação,

nem mesmo há tempo para isso...

A informação passa por

nossos olhos e ouvidos

como uma brisa imperceptível...


Normal...


O sangue escorre das imagens,

do som e dos papéis...

mas não se sente nada...

Anestesia coletiva, difusa e impessoal...

A apatia e a indiferença

não fazem acepção de pessoas...


Normal...

Normal?


Salvador, 16 de agosto de 2010, uma segunda-feira sangrenta...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O Fim do Amor

 





Qual é o fim do amor?

O que move alguém a achar

que não pode viver sem amar?


Qual é o fim do amor?

Por que algo tão maravilhoso

pode ser tão doloroso?


O que alimenta o amor?

As promessas? A parceria?

Os sonhos? Ou a hipocrisia?


O que alimenta o amor?

O respeito? A tolerância?

Os filhos? A esperança?


O que mantém vivo o amor?

O desejo? A vontade?

O medo? A necessidade?


O que mantém vivo o amor?

A fidelidade? O carinho dado?

A cumplicidade? Ou o papel assinado?


Qual é o fim do amor?

O casamento? A monotonia?

O divórcio? Ou a ironia?


Qual é o fim do amor?

Eu não sei...

pois o fim do amor é amar...


Salvador, 12 de abril de 2010

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O Remédio Amargo





Pode chegar um momento em suas vidas

Em que a Paixão se torna amizade,

para depois virar educação;

em que Tom Jobim e Vinícius de Moraes viram Kid Abelha,

em que o “Eu sei que vou te amar”

vira “o nosso amor se transformou em bom dia”;

em que a sua identidade de amante

é convertida em ser pai ou mãe de alguém...


Pode chegar um momento em suas vidas

em que o sexo se torna burocrático,

como um ponto a ser batido

ou um dever a ser agendado;

em que qualquer coisa é motivo para dizer não,

como se precisasse de algo para dizer não...

ou quando o “não quero”, “não pode”, “não faço”, “não vou”

se tornam mais comuns do que o “eu te amo”...


Pode chegar um momento em suas vidas,

em que não há mais gota d’água a esperar,

pois o cálice já transbordou há muito;

em que o silêncio é menos constrangedor

do que ouvir a voz do ente antes amado,

em que a ansiedade de conhecer o outro

é substituída pelo marasmo absurdo

da convivência com falta de assunto...


Pode chegar um momento em suas vidas

em que o resgate dos sentimentos de outrora

é visto como uma chatice ou perda de tempo;

em que as lembranças de momentos felizes

são vistas como um “mico” de um passado distante

em que a tentativa de diálogo é interrompida

por um bocejo ou por um olhar no infinito;

em que se percebe que o desrespeito tem perdão,

mas a monotonia não tem solução...


Pode chegar um momento em suas vidas,

em que se discute compatibilização de horários,

como se o que se tornou um já tivesse desvirado;

em que o trabalho dá prazer e o prazer dá trabalho,

onde o stress é preferível à companhia do outro;

em que vale pena se submeter voluntariamente

a um instrumento de tortura medieval,

em que passar a vida esperando a morte não soa assim tão mal...


Pode chegar um momento em suas vidas,

em que a promessa não consegue mais prevalecer;

em que a experiência derrota a esperança;

em que não faz mais sentido permanecer...

em que não há mais nada a fazer,

senão tomar o remédio amargo,

na agonia que o veneno feche e cicatrize a ferida,

em vez de provavelmente matar o paciente.


Rio de Janeiro, 24 de abril de 2010

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Rima Rica

 





Nada é tão belo que se retrate

melhor do que a tessitura de seus seios:

maciez e firmeza de alto quilate,

poucos sabem seus segredos mas... eu sei-os!


O fogo do desejo nasceu ao vê-la,

brilhando como tocha a iluminar o caminho

de quem procura o norte em uma estrela

na esperança imortal de não permanecer sozinho.


Quem se encantou com seus cabelos disserta

sobre a sensação de ir ao céu em um instante;

quem já chorou por você diz: certa

mulher nasceu para viver distante...


Dos seus lábios, quero, ao menos, um selo

que, na falta de mais, já me aquece...

Olhar para seu corpo e não tê-lo

é decretar o fim da nossa espécie.


Somente aquele que, no paraíso, habita

pode compreender o que se passa aqui:

a concupiscência quase infinita

pela oportunidade de você me ouvir...


Vestirei a minha roupa de gala,

se isso puder deixá-la feliz.

Meu nirvana é abraçá-la

E retirar finalmente esta cicatriz


de uma saudade que me martiriza

como um cigarro que me mata enquanto trago...

como um exército que invade a divisa...

como quem percebe o tamanho do estrago...


Chega uma hora em que se quer vergonha na cara

para ter coragem de ter a cabeça ereta

e saber que todo grito, um dia, cala

e todo alvo, algum momento, alguém acerta!


De quem eu seria, se seu não fosse?

A quem dedicaria este sangue espesso

que flui intenso, vermelho e doce

da ferida aberta que agradeço?


Toda tristeza, a vitória espalma

e da lamentação, eu mesmo declino,

ao conseguir preencher a minha alma

com seu amor, que é o mesmo destino.


No vôo para João Pessoa/PB, 18 de julho de 2010.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Esperança




O futuro há de ser melhor do que o presente

e infinitamente superior ao passado recente,

pois guarda em sim um querer

que se renova a cada alvorecer


Não é o amor que difere o homem dos outros animais...

Não é a falta de guerra que garante a paz...

Não é a pesquisa lógica que impulsiona à solução...

Não é o remédio que traz calma ao coração...


É a força que move o doente à cura...

É o que faz a alma se manter pura...

É o que se sente no sorriso da criança...

É a mais clara forma de fé: a esperança!


Viver é o exercício da persistência

em um mundo que mina sua resistência

com armadilhas dolorosas nos pontos mais sensíveis,

criando obstáculos cada dia mais terríveis...


Mas nada disso realmente importa

quando a sensação que bate à nossa porta

é uma confiança inexplicável no amanhã

com um renascer da vontade a cada manhã...


Salvador, 23 de maio de 2010

Para Micael...

domingo, 2 de janeiro de 2022

Jorge, um Guitarrista




Eu conheci um guitarrista que se chamava Jorge

Ele tinha uma “Golden” e tocava legal

e na sua vitrolinha, só tinha Rock’n’Roll

Iron Maiden, Bon Jovi, Guns ‘n’ Roses, A.C. D. C.

Mas Jorge, de repente, resolveu mudar

Ele pegou a sua guitarra e começou a tocar


E dos acordes que ele deu saiu um axé

Aí eu disse para ele: Meu irmão, qual é?!


Mas o Jorge não ouvia e continuou a tocar

E essa sua mudança não queria mais parar


Ele trocou a distorção pelo reggae do negão

Ele trocou o ACDC pelos filhos de Gandhi


E o Jorge resolveu mudar para Salvador

Um paraíso para uns, para outros um terror

Uma terra onde o profano se mistura com a fé

E para aparecer, o músico precisa tocar axé


E ele começou a curtir

O que ele ouvia ali

Araketu, Olodun

Eta Terra d’Oxum!


Para completar, o Jorge decidiu mudar seu visual

E queimou os seus cabelos para ficar mais sensual

Com penteado Rastafari, ele saiu para desfilar

E se mudou para o Pelourinho, onde agora era o seu lugar


E logo ele que falou que dessa água não beberia...

Pois agora engoliu a água, o encanamento e até a pia...


E toda a galera não acredita nesta mudança:

Ver aquele metaleiro com o cabelo em trança


Mas apesar de tudo, o Jorge está feliz

Pois até foi convidado prá tocar lambada em Paris


E essa foi a história de um cara que eu conheci

E que para falar a verdade, eu nunca mais o vi

Só espero um dia encontrá-lo no maior astral

Tocando a sua guitarra em pleno carnaval!


Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho

(1990)

sábado, 1 de janeiro de 2022

Canção do Exílio (se Gonçalves Dias nascesse na Bahia)





“Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.”


Minha terra tem palmeiras,

onde canta o Sabiá;

mas também há outras coisas

que valem a pena apreciar...


Minha terra tem coqueiros,

cujos côcos têm uma água doce;

tão feliz eu não seria,

se baiano eu não fosse


Há um mar verde-azulado

que parece não ter fim,

com uma brisa de beijo salgado

de uma mulher que só diz sim...


Há um clima maravilhoso,

em que imperam o sol e o calor

e onde um inverno rigoroso

se limita a chuva e a frescor.


E uma comida abençoada por Deus,

que é uma mistura democrática de heranças,

convivendo negros, índios e europeus,

ensinando o respeito ao outro desde crianças.


Minha terra tem musicalidade

e um artista em cada cidadão,

fazendo festa em cada canto da cidade,

pois ser feliz não custa um único tostão.


Minha terra tem um povo hospitaleiro,

que trata o visitante como um amigo,

recebendo-o em seu ambiente caseiro,

como se fosse um companheiro antigo.


“Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que disfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.”


Não permita Deus que eu morra

e perca toda esta alegria...

sem que lembre dos amores

que deixei na minha Bahia


Não permita Deus que eu morra,

sem que eu volte para lá;

sem que eu reveja meus amores

que não existem por cá;

sem que eu chore horrores,

até reencontrar o meu lugar.


Salvador, 10 de julho de 2010